Mas foi só em São Paulo, onde mora desde a adolescência, que Cortella pôde observar a estrutura racista na prática. Teve, enfim, acesso a um mundo mais plural e urgente. É quando começa a questionar termos como "cor de pele" dado aos curativos ou os comerciais de xampu onde todos possuem cabelos alisados.
Mesmo quando tornou-se professor universitário, Cortella ainda presenciou o racismo cometido contra os poucos colegas professores negros. Era um assunto quase inescapável, apesar de ser um homem branco. "Não posso falar de racismo, como não posso falar da fome. Eu sinto fome, mas não passei fome. É como o racismo: não posso falar de, enquanto vítima, mas devo falar sobre", diz.
Para Cortella, o papel do branco é ser um aliado da inclusão neste processo transformador de nossa sociedade. "Eu não sinto um enfraquecimento na minha condição de não afrodescendente", diz.
O filósofo usa uma leitura do revolucionário russo Vladimir Lênin da "curvatura da vara". Ou seja: por séculos de escravização e exclusão, a "vara olímpica" da igualdade racial foi pressionada e revertida em energia.
"Ideias" vai dar espaço para que grandes personalidades e pensadores façam reflexões sobre assuntos que estão em pauta, em conversas dinâmicas e não menos profundas.