Um povo quase desapareceu por completo, e não porque todos morreram ou sumiram do mapa — pelo contrário, continuavam com o coração pulsando em três países diferentes: Brasil, Peru e Colômbia. De nascença, sangue e espírito eram todos e todas kokamas, uma das 305 etnias indígenas que sobrevivem no Brasil, mas com o tempo passaram a se identificar de outras formas: alguns diziam-se parte de diferentes etnias, outros nem indígenas se consideravam mais. Foram dados como desaparecidos porque muitos precisaram deixar de ser ou esconder o que eram.
Como conta a doutora em linguística Altaci Corrêa Rubim, "foram tempos em que tinha muito preconceito e muita vergonha de se dizer kokama". Por imposição religiosa e do Estado, os kokamas, desde o primeiro contato com o homem branco, foram obrigados a desaparecer aos poucos.
Perderam os nomes indígenas, deixaram de realizar muitos costumes tradicionais da etnia e tiveram que esquecer toda e qualquer palavra do idioma. São gerações de pais e mães que, proibidos de falar a própria língua materna, não puderam repassar as palavras do jeito que conheciam para os filhos e filhas.
Só nas últimas décadas a situação começou a mudar. A língua kokama, que permanecia adormecida nas lembranças dos falantes mais velhos da etnia, no final da década de 1980 começou a acordar na forma de palavras escritas em novos livros didáticos e faladas em gravações em áudio que narram a história e a cultura desse povo antes proibido de contá-las em voz alta.