Primeira-bailarina da renomada companhia Dance Theatre of Harlem, Ingrid Silva ficou conhecida por tingir as tradicionais sapatilhas cor-de-rosa para que ficassem mais próximas do tom da sua pele. "ELAS CHEGARAM!!!! Pelos últimos 11 anos, eu pintei a minha sapatilha. E finalmente não vou ter mais que fazer isso!", comemorou em seu perfil do Instagram em outubro do ano passado a chegada de sapatilhas marrons. "Uma sensação de dever cumprido, de revolução feita, viva a diversidade no mundo da dança. E que avanço. Demorou, mas chegou! A vitória não é somente minha e sim de muitas futuras bailarinas que virão por aí", escreveu.
Aos 31 anos, a carioca criada em Benfica, zona norte do Rio, é uma ativista engajada em promover a diversidade no mundo do balé e o empoderamento das mulheres. Filha de uma empregada doméstica e de um funcionário da Força Aérea, Ingrid deu os primeiros passos na arte aos 8 anos, participando do projeto social Dançando para Não Dançar, na Vila Olímpica da Mangueira. Passou pelo Centro de Movimento Deborah Colker e pelo Grupo Corpo antes de se mudar para Nova York, onde ganhou uma bolsa para estudar na Dance Theatre of Harlem School, em 2008. Desde então, vive na cidade e tornou-se parte da companhia fundada por Arthur Mitchell - primeiro bailarino negro do New York City Ballet - e formada em sua maioria por negros.
Em meio à pandemia do coronavírus, Ingrid fez questão de sair às ruas para se juntar aos protestos contra o racismo e a violência policial desencadeados pelo assassinato de um homem negro - George Floyd - por um policial branco no mês passado. A bailarina reclama da falta de empatia na sociedade: "Precisou três pessoas morrerem brutalmente em uma mesma semana [no Brasil, foram assassinados no Rio os adolescentes João Pedro Mattos, 14, e João Vitor da Rocha, 18], as pessoas quebrarem lojas, o mundo virar de cabeça para baixo, para que o resto da população perceba que são questões básicas que estão em jogo: o direito do negro de ir e vir e se manter vivo".
Do bairro do Harlem, onde mora com o marido e a buldogue francesa Frida, Ingrid falou a Ecoa sobre a quarentena, o movimento Black Lives Matter, as maquiagens de Rihanna e as formas efetivas de se combater o racismo. Tendo crescido sem modelos de pessoas negras no balé, ela lançou uma biblioteca digital com referências: a Blacks in Ballet. "Quero que crianças de origem parecida com a minha tenham em quem se inspirar", diz ela.