Filho de pais migrantes de Minas Gerais, Ivo - que teve cinco irmãos - nasceu cercado pela mata e o trabalho rural. A adolescência foi vivida em Santo André, na região metropolitana de São Paulo. Quando ele fez 14 anos, o pai decidiu que o jovem já havia estudado o suficiente. Já sabia ler e escrever. Era hora de abandonar a escola e trabalhar. A única diversão era o futebol aos finais de semana com jovens franciscanos de uma instituição de caridade gerenciada por frades.
"O futebol era uma isca. Depois de um tempo, se quisesse jogar, tinha que participar das reuniões catequéticas. Foi bom, porque comecei a pensar sobre o sentido da vida", relembra. O fato de os jovens no ambiente estarem na escola fez Ivo se sentir deslocado. A situação mudou aos 19 anos, quando ele retomou os estudos para concluir o ensino médio após o pai arrefecer desde que o emprego em uma indústria técnica de madeiras e fabricante de móveis e peças para veículos fosse mantido.
No início da década de 1970 a aproximação com a Ordem Franciscana virou uma válvula de escape para a rotina baseada no itinerário casa-trabalho-trabalho-casa da adolescência. Mas ele conta que, mesmo após os estudos voltarem à sua vida, a sensação de inadequação com jovens franciscanos não foi embora. "No período do seminário tive dificuldades, principalmente com os alunos de ascendência europeia, que vinham do sul do país. Eram muito cruéis em relação ao racismo, e não havia esse debate entre os franciscanos", analisa.
Ainda que seus laços com a fé tenham sido cruciais para sua formação, Ivo viu surgir no seio familiar a crítica sobre o papel da Igreja Católica na legitimação da escravidão. Com o tempo, ele aderiu a esse sentimento sem se afastar da instituição.
Meus parentes falavam com desprezo do catolicismo. Hoje, acho que foi um desprezo ao clero por conta da proximidade com a escravidão. Há um histórico de comprometimento venenoso
O professor reflete que a igreja é responsável por um epistemicídio (a aniquilação de saberes e traços culturais em prol do fortalecimento da cultura europeia) e o teocídio (a sobreposição teologia cristã a outras religiões). "É algo grave", reflete.
Isso é o que ele acredita hoje. Em 1975, ele se mudou para Curitiba, onde vive ainda hoje, para seguir na religião. Queria ser frade. O fervor durou dez anos até que Ivo decidiu que era hora de seguir um caminho diferente e constituir família. Casou em 1988 com a assistente social Maria Helena, com quem teve dois filhos: Janaína e Tales. Após terminar a graduação de filosofia, passou a dar aula de história e geografia em escolas públicas e privadas.
Apesar da estabilidade que a aposentadoria lhe proporciona, Ivo ainda enfrenta questionamentos sobre suas conquistas, materiais e acadêmicas.