"Muita gente acha que sou leitor desde criança, mas na verdade eu comecei a ler depois de mais velho. Nossa escola não tinha nem biblioteca. A maioria dos alunos ia pela comida ou porque a mãe ia trabalhar e a criança não podia ficar sozinha em casa. A gente não via um retorno nos estudos, fazia mais sentido sair da escola e trabalhar. Eu queria terminar o ensino médio e entrar no exército.
No último ano, não devolvi os livros que tinha pegado emprestado dos professores. Naquela época eu ficava muito tempo na rua tentando trabalho. Foi um período difícil e eu me apeguei ao cinema e à literatura. O que mais mexeu comigo foi uma obra do poeta Augusto dos Anjos. Eu nunca tinha visto algo do tipo. Como é que alguém conseguia se expressar tão bem em palavras, enquanto eu não sabia nem dizer o que estava sentindo?
Em 2019 trabalhei numa universidade pública e o pessoal estranhava que eu ouvia funk e ia para a biblioteca. Eu frequentava alguns espaços culturais do centro de Manaus (AM) e me sentia deslocado. Fiquei com isso na cabeça: parecia que não era para eu estar ali. Foi aí que pensei em unir as duas coisas, o funk e a cultura, no perfil Funkeiros Cults.
Eu considero o funk como literatura. Vejo tudo como palavra, acho massa a maneira de se comunicar. Hoje fico feliz de ver o quanto esse projeto cresceu. Desenvolvo iniciativas culturais e esportivas na comunidade onde moro e o fato de ter ficado conhecido com a página impulsionou isso."