Prestes a completar 60 anos, Jurema Werneck queria mesmo era um tempo para ouvir música na praia e, se a brisa ajudar, ler de frente para o mar. Diz, porém, que o Brasil não a permite desengavetar os planos de sombra e água fresca.
Médica formada pela UFF (Universidade Federal Fluminense), ela atuou em favelas no Rio de Janeiro até se dar conta de que poderia lutar pela saúde de pessoas em vulnerabilidade social de outra forma.
A experiência dentro das comunidades impulsionou a criação em 1992 da ONG Criola, uma das principais organizações na luta pelo acesso à saúde para mulheres negras. O trabalho na organização a levou ao cargo de secretária-executiva da AMNB (Articulação de Organizações de Mulheres Negras) e ao de conselheira no Ministério da Saúde.
Depois de um convite inesperado, Jurema está prestes a completar cinco anos como diretora-executiva da Anistia Internacional no Brasil. Por lá, ela lida com as urgências sociais, a última delas a pandemia da covid-19. Mas tenta fazer a instituição mundialmente conhecida pela luta de direitos humanos que, como ela diz, "nasceu branca", sair do discurso para ser de fato feminista e antirracista. Enquanto isso, abre espaço para que outras mulheres ocupem posições de destaque.
É como uma teia: o fio parece invisível, mas ele está lá. Não paramos de trabalhar.