Legadão da Copa

Bandeira da Palestina, estádio 974, direitos LGBT+ e mais momentos importantes que vimos na Copa

Camilla Freitas de Ecoa, em São Paulo (SP) FADEL SENNA/APF

O último dia da Copa do Qatar chegou. Mesmo sem o Brasil em mais uma final, pode-se dizer que esse Mundial fez história ao ser palco de grandes craques, mas também de grandes debates.

Para além do futebol, o Qatar fica marcado por manifestações políticas, mulheres na arbitragem pela primeira vez, o surgimento de novos ídolos dentro e fora de campo....

Pensando nisso, Ecoa relembra agora alguns desses momentos que nos ajudaram a pensar sobre questões importantes e aprender um pouco mais.

FADEL SENNA/APF
iStock Pela primeira vez, um país do Oriente Médio sediou uma Copa do Mundo

Pela primeira vez, um país do Oriente Médio sediou uma Copa do Mundo

REUTERS/Dylan Martinez
Torcedora segura camisa com o nome de Mahsa Amini

A voz das mulheres

No Irã (país que não passou da fase de grupos), uma série de protestos foi desencadeada depois da morte de Mahsa Amini, uma curda iraniana de 22 anos, detida pela polícia por desrespeitar a lei que impõe o uso do véu muçulmano. Já são cerca de 400 manifestantes mortos.

As reivindicações pelos direitos das mulheres iranianas chegaram ao Qatar. Torcedoras levantaram bandeiras e faixas com o nome de Mahsa Amini, mesmo com relatos de perseguição a esse tipo de protesto.

Domitila Becker, jornalista do UOL Esporte, sofreu represálias e se sentiu ameaçada ao tentar reportar os protestos e tentar falar com essas torcedoras durante jogo da seleção iraniana.

Os próprios jogadores do país se manifestaram, no primeiro jogo contra a Inglaterra, ao não cantarem o hino do país antes do início da partida.

Por outro lado, a Copa do Mundo do Qatar vai entrar para história como a primeira a ter uma arbitragem 100% feminina em um jogo: Stéphanie Frappart, Neuza Back e Karen Diaz apitaram a partida entre Costa Rica e Alemanha.

Hector Vivas - FIFA/Getty Images
O 974, o estádio desmontável do Qatar

O que é 974?

Seja na brincadeira ou falando sério, uma pergunta sempre pipocava nas redes sociais: Por que um dos estádios tinha o nome de 974?

Erguido a 7 km do centro de Doha, capital do Qatar, o estádio é uma homenagem ao comércio marítimo qatari. O nome dele, na verdade, é uma referência aos 974 containers de aço reciclável usados para construi-lo.

O primeiro estádio "padrão Fifa"completamente desmontável, o que quer dizer que pode ser remontado em outro evento ou ter suas partes reutilizadas em outros projetos.

E é isso mesmo o que promete o Qatar. O país anunciou que os assentos e o teto serão usados em parques populares.

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A sustentabilidade é parte do legado da Copa também. Pensar no meio ambiente e não apenas construir elefantes brancos que não serão usados depois. Este estádio será usado em outro lugar no mundo.

Gianni Infantino, presidente da Fifa

Fabio Ferrari/LaPresse/DiaEsportivo/Folhapress Torcedores de Camarões durante o jogo entre Camarões x Sérvia, pela 2ª rodada do Grupo G da Copa do Mundo

Torcedores de Camarões durante o jogo entre Camarões x Sérvia, pela 2ª rodada do Grupo G da Copa do Mundo

As bandeiras africanas

As torcidas de Camarões, Gana e Senegal chamaram a atenção no Qatar por mostrar as mesmas cores nas arquibancadas.

Verde, vermelho e amarelo fazem parte das bandeiras de cada um desses países. Ao todo são 13 nações africanas representadas pelas mesmas cores.

A origem da repetição das cores em tantas bandeiras africanas está na história da Etiópia que instituiu a bandeira tricolor após sua vitória contra o domínio colonial da Itália em 1896.

Já em meados do século 20, durante a onda de guerras de independência dos países africanos contra os colonizadores europeus, as três cores começaram a se espalhar pelas bandeiras das nações independentes em homenagem à primeira vitória dos etíopes sobre seus invasores.

Alex Livesey - Danehouse/Getty Images Alex Livesey - Danehouse/Getty Images
Gabriela Biló/Folhapress

Novos ídolos

Não foi dessa vez que a camisa do Brasil ganhou a sexta estrela, contudo, novos ídolos surgiram e ganharam o coração dos brasileiros.

Richarlison, autor dos dois gols da estreia da seleção - o segundo sendo um golaço - foi um dos mais comentados.

O atacante do Tottenham sempre se pronunciou em casos de racismo e foi embaixador de uma campanha da USP pró-vacinas durante o auge da covid-19 no Brasil.

Richarlison não só postou sua indignação com as queimadas no Pantanal como adotou uma onça em uma ONG que preserva o animal e o bioma.

E, para ele, tudo isso faz parte de quem ele é, da sua origem, comentou em entrevista exclusiva para Ecoa.

Outro craque brasileiro também fora dos gramados é Vinicius Júnior. O atacante fundou um instituto para ajudar o ensino público brasileiro através de uma tecnologia que une futebol e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

Lançado em julho de 2021, o Instituto Vini Jr. tem como objetivo criar uma parceria com escolas do quinto ao nono ano para fazer do ensino algo mais divertido e lúdico para as crianças, sem deixar o aprendizado de lado.

Quero impactar quando entro na partida e pelas coisas que faço fora de campo também. Quero impactar para que daqui a uns anos as pessoas possam falar que o Vinicius foi importante para a melhoria da vida das crianças, para a educação e por ter menos analfabetos no nosso país.

Vinicius Junior, jogador do Real Madrid e da Seleção Brasileira

NATALIA KOLESNIKOVA / AFP Bandeira da Palestina sempre presente nas comemorações do Marrocos

Bandeira da Palestina sempre presente nas comemorações do Marrocos

Um país que não estava lá

A cada conquista da Seleção do Marrocos, uma bandeira se destacava no meio das comemorações.

A Palestina foi lembrada tanto nas arquibancadas, quanto no campo, com jogadores que carregaram a bandeira após cada vitória do time marroquino.

O motivo? Mostrar solidariedade ao que é chamado de "Questão Palestina". O termo se refere à luta dos povos palestinos após a perda de seus territórios em função, principalmente, da criação do Estado de Israel em 1948.

Hoje, os territórios palestinos são a Cisjordânia e a Faixa de Gaza. A disputa por essas áreas faz com que o conflito entre Israel e Palestina seja um dos mais extensos e intensos no mundo. Já são milhares de mortos e, em sua maioria, palestinos.

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Victor Pereira/Acervo Pessoal
No Qatar, a bandeira de Pernambuco foi confundida com a LGBT+

O não exemplo do Qatar

Em meio aos jogos, a bandeira de Pernambuco, que tem um arco-íris desenhado, gerou uma confusão no país.

Isso porque, após um grupo de brasileiros levantar a bandeira pernambucana, policiais do Qatar confundiram com bandeira a LGBTQIA+.

No país sede Copa do Mundo, ser LGBTQIA+ é considerado crime com penas que podem chegar até a sentença de morte. A lei foi questionada por seleções, entidades não governamentais e até por torcedores.

O direito dos trabalhadores foi outro ponto que gerou polêmica. Uma reportagem do The Guardian denunciou a morte de cerca de seis mil trabalhadores imigrantes que construíram os estádios do Mundial, o que foi negado pelo governo qatari.

As denúncias contra as más condições de trabalho no Qatar fizeram com que a Organização Mundial do Trabalho buscasse a Fifa, organizadora do evento, para que a entidade da ONU fosse ouvida durante a escolha da próxima sede da Copa.

A ideia é que o respeito aos direitos humanos seja fundamental para a escolha dos próximos anfitriões.

Fabio Ferrari/LaPresse/DiaEsportivo/Folhapress Torcedores do Japão recolhem lixo após jogos a Copa do Qatar

Torcedores do Japão recolhem lixo após jogos a Copa do Qatar

Por que os japoneses limpam os estádios?

A cada Copa do Mundo podemos apostar que pelo menos uma cena vai se repetir e virar notícia: os japoneses limpando os estádios após as partidas.

Não se trata apenas de consciência ambiental, é um pouco mais que isso. A prática faz parte de uma tradição do país: o souji.

Segundo a BBC, a palavra japonesa tem vários significados e, entre eles, limpeza e varrição.

Na prática, trata-se de um ritual que segue um provérbio: "Não jogue terra no poço que te dá água".

Ou seja, não se trata apenas de limpar os estádios de futebol, mas de uma filosofia que é passada de geração para geração.

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