O "Acorda, Criolo" formou o pensamento político de Lúcia, que logo abandonou o curso de direito na UFF (Universidade Federal Fluminense) pela graduação em serviço social na UFRJ (Federal do Rio de Janeiro).
A partir daí, começou a atuar em instituições vinculadas à extinta Funabem (Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor), onde atendia jovens vulneráveis. Trabalhou ainda na favela da Rocinha, na zona sul da capital fluminense, pelo extinto Ibrades (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento) e em parceria com a associação de moradores do local.
Embarcou em 1984 no Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua, instituição criada para transformar a criança e o adolescente em protagonistas da defesa de seus direitos e pressionar o Estado na concepção de políticas públicas para essa população.
O cansaço da constante violência afastou Lúcia das ruas. Foram a gota d'água duas chacinas que aconteceram no Rio em 1993: a da Candelária e a de Vigário Geral. Na primeira, em 23 de julho, milicianos assassinaram oito jovens que dormiam nas proximidades da Igreja da Candelária. Na segunda, em 29 de agosto, um grupo de extermínio matou 21 moradores da favela na zona oeste da cidade. A suspeita era de se tratava de um acerto de contas pela morte de policiais dias antes.
Eu estava enterrando três, quatro jovens por mês. Era uma violência muito grande. Quem quer se tornar íntima de cemitério? Até a tristeza já tinha ido embora. Precisava oxigenar as ideias e respirar fora daquele cenário.
Em paralelo a isso, Lúcia foi atravessada pela questão de gênero ao trabalhar com meninas e mulheres vulneráveis. Era como se olhasse aquelas meninas e visse ela mesma, como em um espelho às avessas. "Eu me perguntava por que elas não conseguiram sair daquela situação e como minha história foi diferente. Elas não foram alcançadas pelas políticas públicas", reflete.
Neste momento, o maior interesse de Lúcia era instrumentalizar educadores e educadoras para lidar com essas meninas e situações. Ela cria a ONG Criola em 1992, mas só conseguiu se desvincular do trabalho com jovens cinco anos depois.