"Sou publicitária e tinha uma agência de comunicação digital que atendia clientes em São Paulo e Brasília. Em 2015, quando estava perto de completar 50 anos, entrei numa crise pessoal e quis dar um novo rumo à minha vida.
Na publicidade, de vez em quando, eu fazia trabalhos sem remuneração voltados para causas sociais, mas era sempre algo pontual: criava uma campanha, realizava uma ação e pronto. Sentia falta de algo que pudesse ter um impacto mais duradouro em um grupo maior de pessoas. Foi quando resolvi abraçar a causa dos refugiados.
Na época, havia um movimento grande de pessoas fugindo da guerra na Síria para a Europa. O noticiário era tomado por imagens dramáticas de refugiados morrendo na travessia do Mediterrâneo. Parte deles veio para o Brasil.
Junto com outras pessoas, criei então um movimento chamado Estou Refugiado. Em 2019, fundamos a organização não governamental com o mesmo nome. O 'estou' é para enfatizar o caráter transitório da situação dessas pessoas forçadas a deixar seus países para refazer suas vidas em outro lugar.
A escolha do tema tem a ver com as minhas origens. Meu avô chegou em 1905 ao Brasil vindo da Bessarábia, na região onde hoje é a Romênia. Ele pertencia a uma família judia que fugiu da perseguição dos russos.
Cresci ouvindo histórias de judeus que tinham outras profissões e foram obrigados a trabalhar com comércio para sobreviver no Brasil. Pensei: 'A melhor forma de ajudar os refugiados é conseguindo emprego para eles'. Aos poucos, abandonei a publicidade e me tornei ativista em tempo integral."