Fé, festa, manifestação, militância, reflexão e ação. Em seu terreiro, Mãe Beth de Oxum reúne religião, medicina popular, cultura local, uma rádio e cursos de programação e de games. A ialorixá de Olinda (PE) é um pouco de tudo.
"No candomblé, os três elementos que dão sentido à vida são a terra, a água e o ar. O ar é a comunicação. E nós precisamos nos comunicar seja pelo rádio, pelo computador, por onde der para soprar nossas palavras, afinal, tem por aí um fundamentalismo cristão intolerante nos criminalizando o tempo todo e temos que fazer esse enfrentamento", sentencia a mãe de santo de 57 anos.
Para além da resistência negra, os cultos afrobrasileiros estão tendo de lidar com sua reconstrução, depois de tanta oposição feita pelas autoridades e pelas denominações neopentecostais, que agora reúnem forças no atual governo federal. "Há um projeto político que está dominando o país e é contrário a essa brasilidade de pretos e índios. Nós vamos ter muito trabalho, começando agora e por mais de 100 anos de luta."
Beth começou como percussionista, sendo uma das mulheres pioneiras em grupos de frevo, ciranda, afoxé e outros ritmos e se apresentando pelo mundo afora. Depois tomou a tradição do coco, ritmo tradicional do Nordeste, e estabeleceu um dos pontos de cultura mais efervescentes da cidade pernambucana, o Coco da Umbigada, no bairro de Guadalupe.
O próximo passo foi virar líder espiritual. Há mais de uma década é ialorixá, e seus filhos naturais já estão na linha de sucessão do território. Atualmente, ela é uma das vozes mais aguerridas e antenadas dos valores que ela chama de "afroindígenas", sabedoria que surgiu do encontro da ancestralidade negra no continente americano.
Para este ano, a ialorixá se aventurou na política eleitoral para que a população de terreiro tenha uma representante na Câmara local. "A hora é essa para as mulheres negras ocuparem seus espaços, tá ligado? Essa elite branca não colocou sempre as mulheres negras para limpar a sujeira dela? É o que vamos fazer agora na política."