"Fui uma adolescente questionadora, inquieta. E acho que todo mundo tem essa inquietação, o que muda é o que a gente faz com ela. Sempre gostei de ouvir as pessoas, isso me fez mais sensível ao outro e à minha própria história. Na adolescência, fui voluntária em asilos, projetos para jovens e voltados à proteção de terras indígenas. Quando entrei na faculdade, fui trabalhar com crianças refugiadas.
Nesse processo, ingressei nos Embaixadores da Juventude da ONU e hoje também estou na diretoria da ONG Perifa Sustentável. A visão que a gente tem da pauta ambiental foi dominada por vozes da elite branca e masculina por muito tempo, então penso num viés social, racial, que coloca a juventude no centro.
Nas zonas urbanas, infelizmente a gente só vai debater Amazônia, regularização de terra, reconhecer a importância dos povos originários quando olha pro céu de São Paulo e ele está cinza de fumaça. A gente tem de fazer disso uma pauta indispensável. Quando a gente fala de êxodo climático, fala de precariedade social; quando fala de demarcação, fala do sofrimento de populações. Não é 'só' uma pauta ambiental.
Criei também o projeto As Yalodês, uma academia de liderança para jovens mulheres negras - algo muito íntimo pra mim e, ao mesmo tempo, coletivo. Porque eu me inseri cedo nos espaços e sempre me senti sozinha. E, a partir do momento em que sou a primeira, quero fazer uma revolução. Eu quero abrir caminhos."
Mahryan Sampaio