Cheguei ao Peru na década de 1980 para liderar o Hospital de Lampa em Puno, no sul do país, como chefe de missão dos Médicos Sem Fronteiras. Lá, descobri as medicinas tradicionais andinas, que me chamaram a atenção. Como médico, constatei a eficácia dessas terapias. Mas era algo que não tinha explicação racional dentro do paradigma ocidental.
Fui para Tarapoto [na Amazônia peruana] em 1986, com a ideia de investigar essas práticas. Era uma cidade pequena, um povoado rural, dominada pelo narcotráfico, terrorismo, porém com intensa circulação da medicina tradicional.
Rapidamente tomei contato com curandeiros e todos disseram a mesma coisa: 'Se você não experimentar a medicina, não entenderá. São as plantas que te falam'. Fiquei confuso, nunca tinha conversado com plantas.
Em minha primeira experiência com ayahuasca [beberagem psicodélica], três meses após chegar a Tarapoto, com um curandeiro, em Iquitos, não senti nada, só uma mudança suave de percepção.
As pessoas ao meu lado vomitavam, choravam, eu tinha medo, nunca havia usado nenhuma substância do tipo, queria ficar no controle, sem entrar na experiência, e foi o que aconteceu. Depois todos estavam rindo, felizes, conversando, me senti um pouco idiota.
Voltei para outra sessão, e desta vez não tive nem tempo de frear, foi muito forte. Foi uma experiência intensa de morte, mas em uma noite entendi muito mais do que tudo o que havia estudado antes. E abriu-se um caminho que me mostrou o que eu precisava fazer, e que estou vivendo até agora.