Viajar pela floresta Amazônia é como se transportar para outro mundo. Além da natureza imponente e majestosa, a região é cheia de histórias de seres encantados e misteriosos, como curupira, boto, mãe d'água. À primeira vista, pode até não parecer, mas essas lendas amazônicas têm muito a nos ensinar. Podem, inclusive, apontar caminhos sobre como salvar um mundo em colapso.
É preciso usar muitas aspas ao chamar essas histórias ancestrais de mitos, sugere a gestora de políticas públicas Kamila Camilo, diretora-executiva do Instituto Oyá, que trabalha com educação, arte e cultura em São Paulo. Ela também é criadora do projeto Creators Academy, que tem promovido imersões educativas na região amazônica.
Para Kamila, o olhar de fora da floresta tende a ser colonizador. "Tudo que tem a ver com a espiritualidade que é não judaico-cristão eurocêntrico colocamos na categoria de mito".
Ela diz que os 'encantados' são para os povos da floresta seres espirituais assim como a Virgem Maria, para os cristãos. "E eles ensinam sobre tudo, cuidado com as águas, proteção das florestas, gestão das plantas."
Na maioria das vezes registradas pela oralidade, essas histórias ajudaram as comunidades amazônicas a desenvolverem as suas habilidades de cuidado com os territórios onde vivem, observa Kamila. "São fundamentais para conectá-los com essa necessidade de proteção e preservação da floresta."