A rua em frente à estação da BRT Vila Kosmos, na zona norte do Rio de Janeiro, se parece com o início de uma típica favela carioca. Mototaxistas de um lado e um ponto de kombi do outro. A Soldado Bernardino é uma das ruas de acesso à Terra Prometida, uma comunidade localizada no Complexo da Penha. Para chegar até lá, a agricultora urbana Ana Santos indicou: "Você pode descer na esquina e pegar o mototáxi ou o 'Uber favela' até o final". Quando acaba o asfalto e começa o chão de barro, as casas de madeira e pau a pique despontam: "é uma área rural no meio urbano", diz Ana.
Chegando ali dá até para esquecer que é uma região próxima ao centro do Rio de Janeiro. As casas estão espalhadas em uma parte da Serra da Misericórdia, um maciço rochoso de aproximadamente 240 hectares, que abrange 27 bairros da região. Cerca de 200 famílias vivem na comunidade. Ana é uma das moradoras ativas que está sempre pensando em projetos de preservação ambiental para a área, que também é ocupada por pedreiras privadas.
Em 2011, Ana e outras moradoras criaram o Centro de Integração na Serra da Misericórdia (CEM), um espaço de integração socioambiental e cultural da comunidade. Mas foi em 2018 que elas perceberam que poderiam manter a área verde incentivando a produção de alimentos nos quintais das casas. São esses quintais que hoje, na atual crise alimentar, ajudam a colocar a comida na mesa:
''A gente não precisou esperar a pandemia para plantar, mas na pandemia isso se torna muito maior por conta da questão da fome. Na semana passada, não tinha arroz, então a gente colheu cinco quilos de aipim e almoçou aipim'', diz Ana.