Em uma manhã de segunda-feira, no fim de 2020, moradores do bairro Alto da Boa Vista ouviram um tec tec tec. O barulho vinha de uma área verde de 63,7 mil metros quadrados chamada Jardim Alfomares, local que pertencia a um empresário espanhol morto de forma misteriosa e que ali deixou um terreno rico em Mata Atlântica. Há cerca de 20 anos, os vizinhos lutam contra uma construtora para impedir o fim do bosque Alfomares, um respiro no meio da zona sul de São Paulo. O ruído, porém, indicava problema.
Um morador viu homens com facões, que entravam e saíam do bosque. Da janela, outro fotografou as árvores cortadas. Era para ser uma operação discreta, mas as machadadas geraram uma revolta da fauna, que tratou de bater em retirada.
Os saguis fugiam e entravam nas casas. Arapongas, tiribas, papagaios, gaturamos e mais aves voavam e filas de formigas batiam em retirada. Uma rã-piadeira se escondia. Há relatos de atropelamentos de bichos em avenidas movimentadas ao redor. Um caos.
Os moradores sabiam: era preciso fazer alguma coisa. O publicitário Pablo Campanha, 40, correu para o celular e enviou uma mensagem a um vizinho, que repassou a outro e a outro. "Vamos nos juntar e ir lá denunciar o que está acontecendo", escreveu. Nos dias seguintes, ele não iria dormir direito, mas não desistiria do bosque, das árvores e dos animais.