Se você não está disposto a trabalhar por isso, então não se meta
Nilma Bentes, agrônoma
Uma das principais lideranças da luta de mulheres negras no país, a agrônoma de 73 anos oscila, ao longo da conversa com Ecoa, entre a disposição combativa de querer fazer mais e o cansaço pelos 40 anos de luta. "Vou aguentando a vida na marra. Costumo dizer que sou uma sobrevivente de mim mesma", afirma.
No meio do passeio por sua história, Nilma não esconde que a sensação de inadequação perante o mundo e a violência premente moldaram sua personalidade. "Nunca fui uma pessoa sã. Você não sabe se é discriminada por ser mulher, negra ou homossexual. Fato é que tudo isso precisa ser varrido da cabeça para que possamos continuar nessa luta", diz.
Se o desconforto é companhia inescapável durante a trajetória, Nilma fez dele um propulsor para levar o movimento negro a considerar outras realidades, como a do Norte do país e das mulheres.
Assim, participou da formulação de propostas para a Constituição de 1988 que contemplassem quilombolas e outras comunidades originárias e idealizou a Marcha das Mulheres Negras, que em 2015 levou cerca de 50 mil mulheres ao Congresso Nacional. Apesar do longo histórico de mobilização, ela não vê outro caminho a não ser marchar em frente.
Acredito que o movimento negro ainda não consegue dialogar com toda a população. Por isso, também o considero pequeno diante da quantidade de gente que se considera preta e parda no país. Até o momento, só fizemos cócegas no poder