O cerrado não é feio
Preservação do cerrado sofre com falta de conhecimento e visão de que região é "tudo mato"
Camilla Freitas
De Ecoa, em São Paulo (SP)
Preservação do cerrado sofre com falta de conhecimento e visão de que região é "tudo mato"
Camilla Freitas
De Ecoa, em São Paulo (SP)
"Na minha época, isso era tudo mato". Essa fala que vez ou outra suge na boca de pais ou avós para se referir ao lugar onde vivem sempre remete a algo negativo, ruim. Quando você olha para uma paisagem seca, cheia de grama alta e árvores espaçadas, o tal do "tudo mato" isso não te remete a algo abandonado?
Mas nem sempre é assim. Se fosse, cerca de 25% do Brasil seria considerado abandonado. É que toda essa área faz parte do cerrado, o segundo maior bioma do país.
Com um clima tropical, ou seja, com duas estações climáticas por ano: a seca e a chuvosa, a vegetação do cerrado é composta principalmente (85%) por árvores, arbustos e gramíneas.
Essa paisagem com vegetação espalhada dá a impressão de que o cerrado é um monte de capim ou grama, um "pasto natural" sem muita vida. O que não é verdade, 5% da biodiversidade do planeta está ali.
E apesar de passar uma primeira impressão de paisagem seca, o cerrado é conhecido como "caixa d'água do Brasil", isso porque abriga oito das doze bacias hidrográficas do país.
Se você mora nos estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso do Sul, sul do Mato Grosso, oeste de Minas Gerais, Distrito Federal, oeste da Bahia, sul do Maranhão, oeste do Piauí ou boa parte do interior de São Paulo, provavelmente você mora no cerrado.
Mas, apesar de só não ser maior que a Amazônia - e de ser ainda mais ameaçado que a nossa grande floresta tropical -, por que o cerrado não ganha a mesma atenção e comoção?
Considerando que o Brasil tem mais de 65% do seu território composto por biomas majoritariamente florestais, e que 72% da população está localizada na Mata Atlântica, é esperado que a sociedade não dê a devida importância para o cerrado"
André Zecchin, biólogo e gerente da Reserva Natural Serra do Tombador mantida pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza
Segundo Zecchin e a presidente da Rede de Sementes do Cerrado, Camila Motta, a falta de conhecimento sobre o bioma também é responsável pela falta de atenção que ele recebe por parte da população.
A melhor forma de quebrar esse estigma é levar conhecimento não somente sobre a importância e sim sobre o impacto do seu desmatamento. A consequência vai muito além da perda da biodiversidade, estamos falando na perda de serviços ambientais fundamentais para manutenção das atividades humanas"
André Zecchin, biólogo e gerente da Reserva Natural Serra do Tombador mantida pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza
Só entre 2021 e 2022 a área desmatada no cerrado aumentou em 20%. Sem o bioma, não só perderemos inúmeros animais e espécies de plantas, como podemos perder também a abundância das águas disponíveis para beber. O cerrado é lindo, vamos preservá-lo!
Publicado em 7 de março de 2023.
Edição: Fred Di Giacomo
Reportagem: Camilla Freitas
Fotos: Getty Images, André Dib (arco-íris)
Design: Bruna Sanches