A valorização do professor

Para empreendedor, teremos menos aulas expositivas e aluno no centro do processo de aprendizagem

Claudio Sassaki Especial para Ecoa

[Educação]

Com a pandemia, milhões de pessoas estão sendo educadas graças à brecha digital que trouxe novas abordagens pedagógicas com o uso de tecnologias. Essa situação involuntária trouxe inovação a um setor resistente aos ventos da mudança. Enfim, a educação terá que se reinventar. Uso da tecnologia em sala de aula, adoção do ensino híbrido e a valorização do professor, depois do período de isolamento em que pais puderam acompanhar o processo de educação dos filhos, são mudanças que ficam no futuro pós-Covid-19.

Ecoa traz na série O Mundo Pós-Covid-19 um grupo de especialistas que, em depoimento a jornalista Mariana Castro, contam como imaginam uma civilização pós-pandemia a partir de temas como Tecnologia e afetividade, Trabalho, Educação, Ciência, Alimentação, Cidades, Novas Economias, Espiritualidade, Meio Ambiente e Comportamento. Além de desenhar possíveis cenários para o que vem depois, eles falam sobre como as escolhas de agora podem contribuir para a construção de um futuro mais desejável.

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Essa situação atípica trouxe inovação a um setor que sempre resistiu aos ventos da mudança e que sempre privilegiou um modelo de aulas expositivas.

Acredito nessa tendência - da entrada definitiva da tecnologia nas salas de aula - mas devemos estar atentos a um contexto nacional: a possibilidade do aumento do gap digital entre alunos de escolas públicas, pessoas em situação de risco socioeconômico. Por isso, é fundamental a atuação do poder público e de organizações da sociedade civil no combate a essa distorção para não termos um cenário de aprofundamento das desigualdades entre alunos das escolas particulares e públicas. Há riscos de retrocesso, mas há oportunidades de melhorar a qualidade do ensino do Brasil, de vermos a educação de qualidade como um direito de crianças e jovens.

Dito isso, e sob a constatação do maior uso da tecnologia, acredito que veremos, no mundo pós-Covid-19, um maior número de escolas adotando o Ensino Híbrido - modalidade que integra as melhores práticas educacionais off-line e online. Em inglês, é reconhecido pelo termo blended learning - em livre tradução, misturar o processo de aprender. Nessa metodologia, há momentos em que o aluno estuda sozinho, aproveitando ferramentas online; em outros, a aprendizagem acontece de forma presencial, valorizando a interação entre aluno e professor. Por inserir essas ferramentas digitais no processo de aprendizagem do estudante, esta estratégia tem se mostrado mais coerente com o estado da arte da educação.

Os alunos deste século, nativos digitais, estão imersos no mundo virtual - embora nem sempre com as competências e conhecimentos necessários para identificar os riscos e oportunidades do ambiente digital. É neste espaço digital que está a própria linguagem, a forma de expressão, as interações e, principalmente, as próprias fontes de informação desse jovem. Neste sentido, o Ensino Híbrido traz para a sala de aula a realidade da nova geração.

Nesse exercício de enxergar o impacto da pandemia na educação no Brasil, acredito que deve haver a diminuição das aulas mais tradicionais e expositivas. Elas devem ser substituídas por aquelas que trazem o estudante para o centro do processo de ensino, que são mais ativas e que falam a língua do aluno. Esse caminho só é contemplado pela maior presença da tecnologia com a intencionalidade pedagógica nas mãos dos professores, nas rotinas dos estudantes, no acompanhamento das famílias e no planejamento pedagógico e estratégico da gestão escolar.

O Ensino Híbrido confere ainda a pais e professores a possibilidade de acompanhar o processo de aprendizado e engajamento do aluno. A partir dessas evidências, os educadores conseguem fazer intervenções mais rápidas. Interessante notar que o contexto das aulas online levou a sala de aula para dentro de casa e forçou as famílias a acompanharem de perto o processo de educação de crianças e adolescentes. Os pais, hoje, podem assistir aulas dos professores, sabem o nível de engajamento dos filhos. Essa aproximação também é uma grande mudança! É pouco provável que os pais, no futuro, abram mão dela.

Um aspecto relevante é pensar que quando a tecnologia está a serviço do educador ela ganha um significado maior. Vemos muitos professores que não tinham o pleno domínio das novas tecnologias se saírem muito bem neste cenário de aulas remotas. Nesse sentido, a pandemia está impulsionando o surgimento de uma nova geração de aprendizes; pais, filhos e educadores se reinventam.

Essa nova geração de aprendizes se torna mais capaz e mais atenta para enfrentar os desafios que estão pela frente. Talvez esse seja o "empurrão" que faltava para promover a tão necessária e desejada transformação da educação. Se enxergamos esse momento em perspectiva, vamos interpretar essa vivência de um modo otimista. Uma experiência que nos levará a um novo patamar como pais e mediadores corresponsáveis pela educação que se inicia em sala de aula, mas que segue atuante em todos os momentos da vida do estudante.

Trago por fim dois pontos sobre um futuro próximo: a saúde mental de alunos e professores e a valorização dos professores. Na volta às aulas, teremos alunos e educadores que perderam entes e amigos queridos vítimas do coronavírus. Esse impacto tem que ser trabalhado e abraçado pela comunidade escolar. Essa é uma tarefa também da educação. Sobre os profissionais, os pais puderam acompanhar de perto o que é educar. Viram a ciência que está por trás dessa atividade. Com isso, no pós-pandemia, o professor sairá valorizado.

  • Claudio Sassaki

    É mestre em Educação pela Stanford University, graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (USP) e co-fundador da Geekie

    Imagem: Heloísa Lisboa/Divulgação

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