Busca ao que é essencial

Para empreendedor, estar mais conectado com o que importa exigirá das empresas propósito claro

Roberto Martini Especial para Ecoa

[Tecnologia e consumo]

Em um mundo onde as pessoas buscam o essencial, líderes empáticos e conectados ao propósito das empresas terão destaque. Também estarão em alta tecnologias mais imersivas, a reflexão sobre o real valor de cada trabalho e a percepção de que presença não tem a ver com estado físico.

Ecoa traz na série O Mundo Pós-Covid-19 um grupo de especialistas que, em depoimento a jornalista Mariana Castro, contam como imaginam uma civilização pós-pandemia a partir de temas como Tecnologia, Trabalho, Educação, Ciência, Alimentação, Cidades, Novas Economias, Espiritualidade, Meio Ambiente e Comportamento. Além de desenhar possíveis cenários para o que vem depois, eles falam sobre como as escolhas de agora podem contribuir para a construção de um futuro mais desejável.

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Parece que há um caminho mais prático em direção ao que realmente importa. Acabamos abrindo mão daquilo que carregamos que não faz tanto sentido e o que fica é o que está mais conectado a nossa essência.

Com mais leveza e menos carga, conseguimos nos equilibrar e nos adaptar melhor a novas realidades que se apresentam, e que vão continuar se apresentando, cada vez mais rápido. Nesse mundo pós-pandemia, devemos encontrar mais gente com esse pensamento, com esse atributo da leveza por carregar apenas o que está conectado com o essencial.

Todo o momento de transformação agressiva e acelerada, de caos, é fértil para construção. É quando a sociedade começa a desenvolver os alicerces e as plataformas para criar o mundo em que queremos viver. Uma crise é uma oportunidade e a criatividade acaba sendo um das armas de maior potência. Quem consegue se articular, trazer ideias e propor novos pensamentos que dialogam com o zeitgeist, com o espírito do nosso tempo, vai conseguir aproveitar essa oportunidade.

O que a crise traz não é uma transformação total das realidades, mas sim uma aceleração de realidades que já apontavam cenários de futuro. Alguns exemplos são o trabalho remoto e a gig economy (economia freelancer), com o enfraquecimento das organizações e a necessidade de trabalhar de forma independente. Isso gera vários desafios, como a dificuldade de suporte e o desamparo que a falta de infraestrutura acabam trazendo. Mas o mais interessante é a reflexão sobre a real necessidade de cada trabalho em um novo contexto de mundo, do que é importante para trabalhar bem.

Aqui na Flag (holding de empresas disruptivas) passamos por três estágios desde o início da pandemia: o primeiro foi de se fechar e proteger; o segundo, de garantir a saúde das pessoas e das empresas, cuidando para que todas elas pudessem se adaptar e continuar operando, e o terceiro é a criação do novo. Ou seja, quais são as soluções que devemos trazer para o mercado em função desse novo contexto.

Também montamos um guide para nossos principais clientes sobre como se posicionar nesse momento de pandemia. No guide passamos por quatro fases e em cada uma delas há uma recomendação de posicionamento. A primeira foi a de ignorância mesmo, a segunda, de contaminação, a terceira, de quarentena e a quarta fase é a retração. Na primeira fase sugerimos apenas observar. Na segunda, a recomendação é para as marcas agirem com responsabilidade social. E aqui é importante evitar qualquer oportunismo e agir sempre com muita empatia. A terceira é de execução, de criação. Quais são os serviços e os conteúdos que de alguma forma vão dar suporte ou potencializar aquilo que precisa ser feito? A quarta fase, em que ainda não chegamos, é a de ressocialização, é estabelecer essa nova conexão. Vamos estar todos trabalhando nessa nova realidade, que é um efeito do que estamos passando.

Nessa nova realidade, os indicadores do que é sucesso em uma organização se alteram. A discussão sobre o propósito acaba vindo ainda mais para a superfície. Diante disso, o maior desafio para as lideranças vai ser atuar de forma conectada ao propósito real das companhias.

Outro desafio, que já é uma realidade mas que deve ser acelerada, é sobre como liderar de forma empática. Mais do que nunca será importante considerar o contexto de todos os colaboradores de uma empresa.

Saber adaptar a organização para as pessoas e não o contrário, como acontecia no passado, em que as pessoas precisavam se adaptar a organização será um dos maiores desafios para as lideranças. Quem conseguir fazer essa adaptação terá mais sucesso no pós-pandemia.

Em relação a publicidade, em um contexto de valorização daquilo que realmente importa, a sua relevância estará justamente em comunicar de forma clara, simples e objetiva para aqueles que estão consumindo algum produto ou serviço. É um resgate da origem da publicidade. Isso acontece ao mesmo tempo em que muitos canais aparecem com a virtualização, com a necessidade de trazer uma experiência de mais possibilidades para as pessoas. Ambientes virtuais e tecnologias mais imersivas vão ganhar mais protagonismo.

Nesse contexto, todos teremos uma relação mais saudável com a tecnologia. O que estamos vivendo força uma curva de adesão e de aprendizagem. O que antes era uma opção, agora vira uma necessidade. Muitos dos serviços, produtos e experiências acabam sendo intermediados pela tecnologia. Então, naturalmente, as pessoas vão se habituar mais rápido a usar a tecnologia pela necessidade.

Isso é o que a tecnologia faz. Ela vai se aproximando cada vez mais para que essa intermediação com o externo seja cada vez menos percebida. Ela vai ficando mais perto do humano e naturalmente começa a amplificar os nossos sentimentos. Falamos "estou sem bateria". Como se o celular fosse uma parte do corpo, por exemplo.

Estamos aprendendo novas formas de estar presente e de sentir a presença. A presença nunca esteve ligada ao estado físico. Ela é ligada a entrega.

Somos seres emocionais e começamos a usar a tecnologia como uma ferramenta de amplificação dos nossos sentidos. Nos colocando experiências que antes eram impossíveis de viver ou até mesmo amplificando experiências que estamos acostumados a viver. Como encontros de famílias, aulas virtuais, cerimônias religiosas.

Virtualmente, estamos aprendendo novas formas de estar presente e de sentir a presença. A presença nunca esteve ligada ao estado físico. Ela é ligada a entrega, a percepção de que a pessoa está ali, onde existe atenção, foco. A tendência é que aumente essa percepção, porque a distância nos fez resolver situações pessoais, emocionais de forma remota. Fisicamente distantes. E nem por isso deixamos de sentir a presença.

  • Roberto Martini

    É empreendedor, fundador e CEO da Flagcx, holding de empresas disruptivas

    Imagem: Divulgação

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Enfim, digitalização

Estamos trabalhando de casa em tempos de pandemia. É diferente de home office. Tem todo o contexto doméstico, da vida das pessoas que precisa ser considerado.

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+ Sobre a série

Ecoa ouviu pessoas de diferentes áreas para saber o que elas estão pensando. É um exercício para tentar dar uma cara a esse futuro que nos espera - e assusta.

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