Assim como Juvêncio, a Escola Baniwa e Coripaco Pamáali também formou Orlando Andrade Fontes, que desde 2020 se tornou aluno da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
A universidade inaugurou, em 2019, o vestibular indígena. "Colocar pretos, pardos e indígenas disputando as mesmas vagas não assegura a inclusão da população indígena que pode ter um tipo de escolarização diferente", explica José Alves de Freitas Neto, professor do departamento de história e coordenador executivo do vestibular da Unicamp (Convest).
Com a medida, a universidade saltou de sete indígenas para 72 aprovados no primeiro vestibular específico, conta o coordenador. Como o problema dos povos vulnerabilizados em universidades não é só o ingresso, mas também a permanência, a Unicamp dispõe de políticas para garantir que os estudantes indígenas possam continuar seus estudos.
Segundo o coordenador, a universidade possui programas de permanência estudantil que envolvem recursos financeiros, moradia e alimentação, além de aulas de reforço de português e ciências exatas. Enquanto esteve em Limeira, no interior de São Paulo, onde está cursando administração, Orlando pode desfrutar desses programas. No final de 2020, com a pandemia, ele retornou para casa e foi contemplado com auxílio dado pela universidade para o estudo remoto.
Assim como Orlando, cerca de 30% dos concorrentes no vestibular indígena de 2020 foram de São Gabriel da Cachoeira. A decisão pela cidade tem em vista ao fato do município ter o maior percentual de população indígena no Brasil. "Após a primeira edição, a Comvest confirmou que a decisão foi acertada já que a maior demanda de inscritos e aprovados foi exatamente de lá", em nota, explica a entidade.
A presença da escola indígena na região foi importante para esse resultado. A Pamaáli chegou a ser reconhecida como instituição de inovação e criatividade para a educação básica pelo Ministério da Educação. Hoje, contudo, enfrenta dificuldades.
"A escola sofreu com falta de recursos públicos e passa por um processo de reestruturação", conta Juvêncio. E essa reforma conta com a identidade de André. "Ele sempre foi nossa referência", completa o educador.