Enquanto conversava com Ecoa sobre teste genético de ancestralidade, Ramires se emocionou ao contar dos tempos bons e difíceis que passou com a mãe, Judith Santos do Nascimento trabalhava. Nas férias, era comum ele e os irmãos Michael, 39, Michele, 37, e Renan, 21, passarem os dias em um hotel fazenda famoso onde a mãe trabalhava. O pai, Maurílio Marques, convivia pouco com as crianças, porque também cuidava à época dos filhos com outra mulher em Nova Iguaçu.
Já o contato com a avó materna foi mais frequente. Mãe de oito filhos, ela é a ancestral mais viva nas lembranças dele - do avô só se recorda que se chamava João. Foi sob o cuidado zeloso dela — e das comidas preparadas - que o jogador cresceu com os irmãos. Enquanto os tios e irmãos mais velhos trabalhavam e estudavam, ele foi o escolhido, mesmo sendo um menino, para cuidar de vó Teresa quando ela ficou acamada após um Acidente Vascular Cerebral, em 1997.
Com o pouco que a gente tinha, ela fazia milagres a todos os netos para um não ser mais mimado que o outro. Eu estudava de manhã e à tarde me dedicava a cuidar dela. Ela usava fralda, e precisava ser virada na cama por causa das costas. Nos primeiros meses, ela levantava, colocava a muleta e ia até o banheiro. Mas o tempo passou, e ela foi parando de andar"
A emoção com que Ramires fala com voz embargada sobre a avó destoa do tom frio com que ele se aposentou dos gramados. Sem pompa, o anúncio ocorreu em setembro deste ano após dois sem clube depois que ele deixou o Palmeiras, em 2020.
O encontro inicial com o futebol foi mais caloroso. Chegou devagarinho graças ao irmão mais velho, Michael, que tentou a vida em nos times da região. Antes levado a tiracolo, Ramires logo entrou para a escalação.
Meu irmão Michael sempre jogou nos times da cidade e eu, aquele molequinho, queria ir atrás, né? Lógico que eu não tinha a pretensão de me tornar um atleta igual a carreira que eu fiz. Eu só pensava: 'pô, cara, acho que um dia eu posso ser um jogador, né, não?'"
Após uma raça Rio, o Joinville o convidou. Com não mais que 18 anos, o jovem topou e viajou pela primeira vez para fora do estado do Rio. Daí em diante, Ramires e os campos nunca mais se separaram. Após jogar entre 2005 e 2007 no time catarinense, ele foi para Cruzeiro. Antes de ganhar o mundo, cumpriu o que prometeu para a mãe e comprou a esperada casa própria para a família, lá mesmo em Barra do Piraí.