O poeta e jornalista Oswaldo de Camargo está feliz. Aos 84 anos, o icônico militante do movimento negro finalmente será reconhecido pela cidade em que nasceu. Bragança Paulista dará o nome dele a uma praça. A homenagem, que ele classifica como vitória dos pobres, faz com que deixe de lado as reservas e converse com Ecoa sobre assuntos tão familiares e, ao mesmo tempo, tão espinhosos. Oswaldo é pai de Sérgio Camargo, o atual presidente da Fundação Palmares, que já chamou o movimento no qual o pai militou por meio da literatura de "escória maldita".
"Eu estou sabendo muito bem que há bastante ruído a respeito do meu nome, por diversos motivos. Alguns por vias sinuosas, como a repercussão em torno do meu filho à frente da Fundação Palmares, que é um caso político. Muita gente tem me procurado para dar entrevista, mas tenho negado quase todas elas", diz.
Quando Oswaldo fala da infância, é impossível não comparar a proximidade do pai, com quem caminhava descalço até o trabalho, com o distanciamento político do filho, cuja postura controversa ganha os holofotes, sobretudo por ir na contramão de sua trajetória.
Há um ano à frente do órgão responsável por ações e políticas públicas em favor da cultura afro-brasileira, Sérgio tem causado espanto e indignação. Espanto, por seu discurso nada se assemelhar ao de Oswaldo. Indignação porque, alinhado ao Governo Bolsonaro, vem desmontando o trabalho realizado pelo órgão desde sua fundação, há 32 anos.
Enquanto isso, Oswaldo será homenageado com honraria que nunca imaginou receber. Também não passou por sua cabeça que um filho chegaria à Fundação Palmares. O feito traz um misto de orgulho e receio por um possível confronto.