Ecoa - Você participou do Ato pela Terra em Brasília. Como a defesa do meio ambiente e dos direitos dos povos indígenas se conecta com o que comemos?
Paola Carosella - Está tudo relacionado: meio ambiente, terra, território indígena e quilombola, agricultura familiar, pequeno agricultor, agroecologia, agronegócio. Uma coisa impacta a outra. A gente tem um Brasil que nos últimos anos favoreceu muito mais um único modelo de agricultura, então faz sentido que eles venham dizendo que precisam de mais terra, de mais agrotóxicos, de mais fertilizantes.
A pauta ambiental não tem que ter partido, o ambiente não vai escolher um lado para se foder e o outro vai manter bonito. Então faz dela uma pauta do centro, faz dela uma pauta de direita.
Você cresceu tendo contato com a horta que as mulheres da sua família cultivavam e os animais que seu avô caçava e pescava sendo preparados em casa. Como isso moldou sua relação com o alimento e de que maneira lhe transformou na cozinheira que você é hoje?
Eu não tinha noção da importância que isso tinha, era normal pra mim. Cresci muito perto do lugar de onde a minha comida saía. Depois fui entrando na cozinha, fui comprando de fornecedores, trabalhando em restaurantes que estavam muito perto das áreas de agricultura e a gente sabia de onde o ingrediente vinha, a gente sabia o nome de cada fornecedor.
Depois cheguei em São Paulo, uma cidade gigantesca, e fiquei muito impressionada com as distâncias. Era impossível saber quem plantava o quê, de onde as coisas vinham. Eu perguntava para o fornecedor, mas ele não era mais do que um atravessador do Ceagesp. Queria ver quem planta e colhe aquilo que eu cozinho, aí comecei a trabalhar com agricultura familiar em Parelheiros. E quanto mais perto eu fui chegando dessas famílias, da terra e das pessoas, aos poucos também fui crescendo como figura pública. As pessoas iam me chamando para eu abraçar causas que envolviam a terra e cada vez fui aprendendo e me envolvendo mais.