"Você teve algum problema para entrar aqui? Trataram você mal?", me perguntou Lucas*, um jovem de 17 anos assim que cheguei em Paraisópolis na manhã desta terça-feira (03). Era a primeira vez que eu, baiana criada a vida toda na periferia da zona norte, estava pisando na segunda maior favela da cidade de São Paulo. Paraisópolis fica há 38,5 km e mais ou menos uma hora e meia de transporte público da Vila Albertina, onde cresci. Mesmo assim, as motos que cortavam as ruas enquanto jovens jogam bola e os tênis amarrados no fio de eletricidade estavam lá, assim como estão nas ruas do lugar de onde eu venho.
Fui a Paraisópolis para ouvir os moradores sobre o baile funk da DZ7, que acontece ali semanalmente há pelo menos uma década, e tentar entender o que o fluxo (nome dado às festas de funk que acontecem na rua) representa na vida deles. Todas as pessoas com quem falei (foram mais de treze), além de mencionar, é claro, a morte dos nove jovens no último fim de semana, na madrugada do sábado para o domingo, contaram a história de uma festa com pegação, bebida e muita gente, que perturba pelo som alto. Até aí, não há nada muito fora do que rola em festas de outros gêneros musiciais, em outros cantos da cidade ou do Brasil. Exceto por um detalhe: o Baile da DZ7, me disseram, é uma das poucas opções de lazer que dos jovens de quebrada. E não apenas daquela quebrada. Vem gente de todo canto da cidade se divertir ali.
Eu não tive problema para entrar em Paraisópolis, respondi para o Lucas. Todos me receberam como se fosse de casa e tive um dia agradável, acompanhada por Renata Alves, 40, produtora de locação e figuração dentro de Paraisópolis, que me levou a vários cantos. Após minha resposta, o menino fez cara de quem já sabia o que eu diria. E, durante o dia, percebi que ele repetiu a mesma pergunta para outras pessoas, como se quisesse comprovar algo. E queria.
*Nome fictício, já que o garoto não quis se identificar.