Em 2022, o livro "Marrom e Amarelo", do escritor gaúcho Paulo Scott, 55, foi elogiado pelo "New York Times" e "Guardian". Em março, a obra foi indicada para o maior prêmio literário de língua não-inglesa no mundo, o The International Booker Prize. A história narra a vida do negro de pele clara Federico, irmão de um homem negro de pele escura, Lourenço. Um é "amarelo" e o outro é "marrom". "A discussão do colorismo é um tabu no Brasil", diz Scott para Ecoa sobre o tema da obra.
Segundo o escritor, o colorismo é uma ferramenta do racismo. Na prática, ele explica que o colorismo distingue pessoas negras de acordo com a tonalidade de pele, textura do cabelo e traços físicos. O livro narra um cenário hipotético em que o governo avalia um programa de computador para distinguir quem pode ser considerado negro para receber cotas em universidades. Federico, então, retoma lembranças da vida ao lado do irmão, da família e a diferença imposta entre eles.
Na vida real, Scott, autodeclarado negro de pele clara, é irmão de um homem negro de pele escura. "O colorismo atribui níveis diferentes de estigmatização", diz. Quanto mais escuro, maior a propensão à violência racista. "O colorismo divide as pessoas para que elas briguem entre si, não se unam e, para assim, dominá-las", diz. Mas há maneiras de bater de frente e construir uma sociedade melhor. "São grupos de pessoas com a determinação maravilhosa de saber o quão importante é ser feliz", diz.