"Eu sou formada em Pedagogia pela USP [Universidade de São Paulo] desde os anos 70. Comecei a trabalhar em escolas como orientadora pedagógica, mas eu sempre era mandada embora logo por causa da ideia que eu tinha sobre educação. Eu não aceitava essa ideia de caixinha fechada. Depois da terceira demissão, eu falei: 'vou fazer na minha casa e vou trabalhar do meu jeito'.
Era 1972, e comecei a trabalhar com filhos de exilados políticos. Chilenos, argentinos, filhos de brasileiros e favelados. Tudo junto, dentro da minha sala, onde eu misturava todo mundo
Depois surgiram na favela os grupos de extermínio. E eles colocavam num cartaz, em um poste, quem ia morrer em sete dias se não saísse de lá. Eu estou falando de crianças de 12, 13 anos, nada mais que isso. E aí fui atrás, peguei essas crianças, ninguém queria esconder porque ou eles matavam ou eles deixavam paraplégico. Levei tudo para a minha casa.
A casa ficou pequena para tanta criança e jovem. Meu marido e eu compramos uma maior. Foi quando eu pensei 'não vou morar aqui, eu vou começar meu sonho de educação'. Fui morar de aluguel, peguei mais cinco amigas da USP e começamos a Casa do Zezinho, no Capão Redondo."
Dagmar Rivieri, fundadora da Casa do Zezinho