Nascido no Fazenda Grande do Retiro, bairro de Salvador (BA), e filho de um estivador e de uma lavadeira, Lázaro Roberto, 64, diz que é do tempo em que pessoas negras não colocavam as mãos em máquinas fotográficas. Na década de 1970, viver deste ofício era sinônimo de status e para quem tinha poder aquisitivo. Sua realidade era bem outra. Após passar pelo grupo experimental de artes, a rota de sua vida mudou. Ele largou o trabalho na gráfica e passou a se aventurar pela produção de imagens para preservar a memória da capital baiana.
De lá para cá, Lázaro registrou marcos da história na cidade, como a visita das lideranças sul-africanas, Nelson e Winnie Mandela, em 1991. Após ficar preso por 27 anos por sua luta contra o regime do apartheid, sistema de segregação racial sul-africano, Mandela visitou o Brasil um ano após a sua liberdade e reuniu uma multidão de cerca de 150 mil pessoas.
Lázaro é idealizador da Zumví Arquivo Fotográfico, um acervo extenso da cultura e do movimento negro na Bahia composto por imagens dele e de outros fotógrafos negros, como Jonatas Conceição e Lúcio Flávio, além do cineclubista Luiz Orlando. Enquanto continua a registrar o cotidiano da população negra em Salvador, ele tem pela frente o que diz ser um dos maiores desafios de sua carreira: digitalizar mais de 30 mil fotogramas para garantir o acesso à memória às gerações futuras.