Os filmes e seriados americanos estão cheios de histórias de imigrantes latinos mudando ilegalmente para o país. A história ganha contornos dramáticos quando entram em cena um marido ameaçador, um traficante de pessoas e uma travessia arriscada arrastando os filhos entre as correntezas do rio de fronteira entre o México e os Estados Unidos. Na chegada à terra da liberdade: "La Migra", como os imigrantes mexicanos chamam a ICE, agência de imigração e fiscalização aduaneira dos Estados Unidos.
Parece roteiro de algum episódio de "Breaking Bad" ou "Orange is The New Black", mas aconteceu com uma brasileira, cuja história ganhou reviravolta mais gentil, quando ela conheceu uma professora conterrânea que ajuda na adaptação das crianças e dos adultos na nova nação.
La Madre
A brasiliense Patrícia Hahn tenta ajudar como pode as levas de crianças brasileiras que se matriculam na escola pública em que dá aula em Hartford, capital do Estado de Connecticut. Muitas delas vivem em apartamentos sublocados no centro empobrecido da cidade. Os parentes trabalham vários turnos seguidos, e os estudantes ficam o dia todo no colégio.
"Muitas famílias vieram do meio rural do Brasil e mal dominam o português. Sonham que os filhos falem o inglês e tenham um futuro melhor. Tento ajudar nessa adaptação das crianças e nas dificuldades que os pais enfrentam por não saber o idioma", conta Hahn, que mora desde 2005 nos EUA e desde 2010 tem cidadania norte-americana.
Por ser a única professora que fala português na Parkville Community School, virou a referência para os conterrâneos. "Os pais me procuram por questões educacionais, mas também para resolver problemas pessoais deles, afinal, a escola é o principal ponto de sociabilidade com a vida norte-americana. Eles trabalham duro em funções informais, e se sentem vulneráveis diante dos empregadores, das autoridades e da sociedade daqui", relata.
Hahn dava aulas em colégios particulares em Brasília e, de tantos problemas que surgiam com os alunos de classe alta, já tinha desistido do magistério. Foi aí que ela se mudou para a Flórida acompanhando o marido, que obteve uma bolsa de doutorado em psicologia. Mesmo com inglês básico, começou a estudar para ser professora nos EUA. Após formada, o marido conseguiu trabalho em Massachusetts, e Patrícia se transferiu para uma escola da vizinha Connecticut.
A violência, porém, cerca as redondezas. "Há tráfico de drogas nas ruas próximas, e, por vezes, se escuta um tiroteio. Eu já sofri tentativa de assalto também. Mas os brasileiros que moram por aqui enfrentaram situações bem piores antes de chegar aqui", afirma.