Uma multidão faz três funcionários públicos de reféns durante 15 horas. Não muito longe dali, um cineasta é ameaçado de morte. O corpo de um animal morto aparece pendurado na porta da prefeitura. Em um vídeo publicado no YouTube, homens armados com espingardas anunciam que uma milícia está pronta para agir.
E a culpa disso tudo, dizem, é do "lobo mau".
Longe de se passar em uma zona de guerra, essas cenas acontecem em vilarejos minúsculos espalhados pela França, onde a tranquilidade da vida rural tem sido perturbada por ataques de lobos que ocupam o território francês e vão atrás de ovelhas nas fazendas.
O Canis lupus italicus, nome científico da espécie que vem da Itália, é um mamífero carnívoro, e em seu menu entram de 2 a 5 kg de carne por dia. A preferência é por presas como os veados e cervos, mas também acabam se alimentando de animais domésticos mais fáceis de serem caçados, como ovelhas e cabras.
Mas várias gerações de camponeses nunca tiveram de encarar esse predador, já que o bicho foi vítima da caça em massa que o exterminou em 1930. Até que, em 1992, um casal de lobos voltou a ser visto no Parque de Mercantour, nos Alpes.
A partir daí, os lobos recolonizaram o interior da França. Hoje, as alcateias se espalharam por quase todo o país, e o clima na região se tornou uma mistura de teoria da conspiração, complô, lobby e violência contra o animal.