"Um caboclo nascido e criado no pé da seringueira". É assim que Raimundo Mendes, o Raimundão, se define. Aos 77 anos, o seringueiro viu a região onde nasceu se transformar: a soja, o pasto seco e o gado pelo caminho até a Reserva Extrativista (Resex) Chico Mendes, em Xapuri (AC), tomaram o lugar da vastidão da floresta amazônica da infância de Raimundão.
Sobraram as lembranças do que chama de "festividade da floresta": ele, menino de tudo aos 5 anos, andando pelas estradas de seringa ao lado dos irmãos mais velhos, o canto dos macacos ou do uirapuru, até o riscar da asa do jacu...
Aprendeu a observar a natureza com o pai, seu Francisco Deodato, que o ensinou também a colher borracha, plantar arroz, feijão, mandioca, banana e jerimum. "Desde menino tomei consciência de que a floresta era para ser mantida em pé."
Foi esse ensinamento um dos motores para as lutas que o seringueiro travou (e ainda trava) contra fazendeiros e empresas que chegaram devastando a região. Por anos, ao seu lado estava o seringueiro e ambientalista Chico Mendes - primo de Raimundão.
Os seringueiros resistiram à invasão violenta dos fazendeiros criadores de gado que chegavam do sul do país e juntos fundaram em 1977 o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri.