Não estranhe se você começar a tropeçar cada vez mais por aí em palavras como regeneração, regenerativo ou regenerar. Pode ser em um discurso, um post, uma propaganda, uma discussão de família ou em uma reportagem, como esta aqui. Vivemos tempos destrutivos e, digamos assim, degenerados. Mas muita gente está disposta a enfrentar essa situação.
A cultura regenerativa propõe inicialmente avançar na ideia de sustentabilidade, criada há mais de 30 anos. Atualmente, com as mudanças climáticas e os desastres ecológicos em aceleração, já não basta não agredir o meio ambiente, criar compensações para os desgastes e ficar no 0 a 0. É preciso virar o jogo e fazer com que todas as ações humanas tragam vitalidade para os lugares, dinamizando tanto os ecossistemas quanto as culturas tradicionais. É preciso ativamente recuperar os anos de consumo desenfreado.
Para tanto, cada atividade econômica deve ser planejada, desenhada e aplicada seguindo essa premissa. E, para ser efetivo, o processo deve acontecer nas pessoas, famílias, bairros, cidades, empresas, setores econômicos, regiões e países.
"A regeneração interna é o início. Temos que deixar a ideia de que controlamos a natureza e perceber que somos a natureza. Depois, colocar isso da porta para fora. As empresas, os órgãos públicos devem se ver como catalisadores da saúde do lugar aos quais mais pertencem", afirma o engenheiro ambiental Felipe Tavares, fundador do Instituto de Desenvolvimento Regenerativo, escola e consultoria dessa nova área.
Até cinco anos atrás, o termo regenerativo era mais ouvido quando se falava em biologia ou medicina. Afinal, os animais regeneram partes do corpo: lagartixa perde e recupera a cauda, e o próprio ser humano recompõe órgãos, como a pele ou o fígado. A ecologia também usa essa palavra para habitats que se revigoram, com ou sem a ajuda humana. Dali pulou para a economia.
"Temos de abandonar a visão mecanicista e linear, criada na era industrial, e entender que operamos com sistemas vivos, para os quais precisamos de um pensamento mais complexo. O mundo não é uma máquina: é um organismo. Por isso, temos de deixar as ações automáticas de lado e dar profundidade aos projetos e execuções", completa Tavares.