Durante milênios e nos cinco continentes, a humanidade viveu em aldeias, plantando seu alimento e cuidando das águas e da natureza do entorno. Tudo mudou nos últimos 200 anos, principalmente após as sucessivas revoluções industriais. Agora, com emergências climáticas, ecológicas e sociais em andamento, uma onda contrária acontece, e as chamadas ecovilas surgem como alternativa, podendo aliar os conhecimentos rurais e naturais com as tecnologias das cidades.
Desde 1998, a Organização das Nações Unidas reconhece as ecovilas entre as melhores práticas para o desenvolvimento sustentável. E recentemente essa ideia tem sido aplicada para a reconstrução de áreas atingidas por desastres naturais e econômicos também.
É assim nas Filipinas, onde um tufão devastou o povoado de Batug que se reergueu seguindo a lógica ecocomunitária. Isso também aconteceu em Pescomaggiore, na região italiana de Abruzzo, após um terremoto destruir várias localidades, com a união da população local sendo a força da regeneração, muito mais que a ajuda do governo central.
Ecovilas também estão sendo criadas em regiões da Europa com aldeias desertas após migração dos jovens para as cidades, como em Navarra, na Espanha.
Já o governo do Senegal está fazendo a transição de 14 mil vilas tradicionais para o modelo de ecovilas com o objetivo de fomentar tecnologias ambientais, desenvolvimento local e as culturas originais. O caminho está sendo seguido em outros países como Zâmbia, Zimbábue e Uganda, a partir de escola rurais de sustentabilidade financiadas por países europeus.
Mas, afinal, o que são ecovilas?
São comunidades multifuncionais com princípios e práticas que se voltam para a sustentabilidade, nas dimensões ecológicas, econômicas, sociais e culturais. Podem ser rurais ou urbanas. Podem ter menos de dez pessoas ou mais de 3.000. Não há fórmula, e as regras são elaboradas pelos moradores.
"O coração de uma ecovila é a comunidade. São laboratórios vivos, criando e testando soluções sociais, processos participativos, metodologias que misturam novas ferramentas e técnicas antigas, além de desenvolver economicamente a área com o menor impacto ambiental possível. Outra característica muito forte é o ensino, as pessoas vão lá para aprender e irradiar esse conhecimento", afirma Taísa Mattos, coordenadora de educação da GEN (Global Ecovillage Network), rede que conecta mais de 15 mil iniciativas em todo o globo.
Está tão em voga que muitos empreendimentos comerciais se anunciam como ecovilas por puro marketing. "Eu fico horrorizada quando vejo um loteamento só por ter um painel solar se vender como uma ecovila", critica Taisa.