Re_construção

Pessoas e ideias oferecem maneiras de ver e lidar com nosso mundo e sociedade durante e após a pandemia

De Ecoa, em São Paulo Amanda Miranda/UOL

A pandemia de Covid-19 impôs desafios a todos os setores e escancarou desigualdades crônicas da nossa sociedade. A realidade apresentada neste período trouxe uma certeza, em meio a tantos cenários duvidosos, é preciso mudar. A reconstrução não poderá voltar para o ponto de onde saímos, ele já não existe mais — e o que ali havia ignorava populações inteiras, negava acessos e promovia o abuso de pessoas e recursos naturais.

Por isso, Ecoa propõe durante o mês de outubro um ciclo temático de reportagens e entrevistas sobre Re_construção. A proposta é falar sobre pessoas e ideias que oferecem diferentes maneiras de ver e lidar com nosso mundo e sociedade durante e após a pandemia.

Ao longo de três semanas nos aprofundaremos em debates que vão da necessidade de se falar (e agir) sobre as populações mais vulnerabilizadas, a luta antirracista, os saberes ancestrais e seus ensinamentos e, é claro, o mundo dos negócios e o futuro do trabalho.

Acompanhe abaixo as reportagens especiais sobre o tema. O índice será atualizado à medida em que novos conteúdos forem publicados.

Cultura regenerativa

Com crise ambiental e social em aceleração, é a sucessora da sustentabilidade

Não estranhe se você começar a tropeçar cada vez mais por aí em palavras como regeneração, regenerativo ou regenerar. Pode ser em um discurso, um post, uma propaganda, uma discussão de família ou em uma reportagem, como esta aqui. Vivemos tempos destrutivos e, digamos assim, degenerados. Mas muita gente está disposta a enfrentar essa situação.

A cultura regenerativa propõe inicialmente avançar na ideia de sustentabilidade, criada há mais de 30 anos. Atualmente, com as mudanças climáticas e os desastres ecológicos em aceleração, já não basta não agredir o meio ambiente, criar compensações para os desgastes e ficar no 0 a 0. É preciso virar o jogo e fazer com que todas as ações humanas tragam vitalidade para os lugares, dinamizando tanto os ecossistemas quanto as culturas tradicionais. É preciso ativamente recuperar os anos de consumo desenfreado.

Para tanto, cada atividade econômica deve ser planejada, desenhada e aplicada seguindo essa premissa. E, para ser efetivo, o processo deve acontecer nas pessoas, famílias, bairros, cidades, empresas, setores econômicos, regiões e países.

"A regeneração interna é o início" (...)

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Causadores: Ítala Herta

  • Ela está à frente de projetos para mulheres, jovens e negros de Salvador

    O racismo é uma máquina de destruir a juventude. É um dano irreparável ao país. Hoje, eu ajudo pessoas de bairros populares, principalmente jovens, mulheres e negros, a encontrarem e construírem seus sonhos, tocarem seus projetos, transformando a vulnerabilidade em potência. Esse trabalho é uma forma de buscar o bem comum (...)

    Imagem: Raul Spinassé/UOL
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Afrofuturismo

O caminho para estruturar modelos de sociedade mais justos para a população negra

O futuro desse planeta nascerá do lado de lá do Atlântico. E será cada vez mais preto.

Ou, como declarou em 2016 Achille Mbembe, filósofo camaronês e um dos principais estudiosos do pós-colonialismo: "O mundo de amanhã será a África", referindo-se ao fato de que daqui 30 a 50 anos uma em cada três pessoas no planeta será africana ou descendente de uma em diáspora. Na visão do intelectual, torna-se necessário pensar caminhos para que essa vantagem populacional se traduza em produção de riquezas em vez de uma maior precarização da vida de negros e negras no mundo.

E se perguntarem qual será a cara desse futuro, talvez possamos dizer que se parecerá com um pássaro, muito conhecido em algumas culturas africanas. Diferente dos outros, o bicho pode ser facilmente reconhecido por estar sempre olhando para trás enquanto voa para frente. E por isso é comumente usado para ilustrar o conceito de Sankofa, que tem como base um provérbio vindo do que hoje conhecemos por Gana, que diz: "não é errado voltar para buscar aquilo que esquecemos" (...).

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Entrevista: Mãe Beth de Oxum

  • Ela é mãe de santo radialista, gamer, batuqueira e política

    "No candomblé, os três elementos que dão sentido à vida são a terra, a água e o ar. O ar é a comunicação. E nós precisamos nos comunicar seja pelo rádio, pelo computador, por onde der para soprar nossas palavras, afinal, tem por aí um fundamentalismo cristão intolerante nos criminalizando o tempo todo e temos que fazer esse enfrentamento(...)"

    Imagem: Clara Gouvêa/UOL
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Mães solo

Como construir uma nova maternidade em uma sociedade em crise?

A mãe solo Thaiz Leão, 29, está atarefada. Muito atarefada. Ela e o filho Vicente não saem de casa há seis meses. As aulas são virtuais e a professora da escola envia tarefas e recados pelo celular. Quando o aparelho vibra, ela para tudo e bota o garoto de seis anos para estudar. Na marra, mantém de dois a três afazeres ao mesmo tempo. Nem sempre consegue.

Assim que o menino começa os deveres, ela retorna para o computador. Ajeita os óculos e fica meio cansada, meio elétrica. Do outro lado da tela estão milhares de mães solo, como ela, à espera de uma ajuda (...).

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Causadores: Noah Scheffel

  • Ele é mãe de Anita e pai de Helena; hoje capacita pessoas trans

    "O que minhas filhas vão pensar? Como vou explicar isso para elas?", eu pensava. Contar sobre mim era minha maior preocupação. Tenho duas filhas: a mais velha se chama Anita, de 7 anos; a mais nova é a Helena, de 4. Fui negligenciando essa conversa, empurrando com a barriga, até que não aguentei mais e decidi falar. Aconteceu enquanto eu e Anita fomos comprar ração para nossos bichinhos (...)"

    Imagem: Tiago Coelho/UOL
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Amanda Miranda/UOL Amanda Miranda/UOL

Empresa e trabalho

Flexível, digital, remoto, distópico. Empresários e sociólogos, arriscam cenários para o futuro do trabalho

A pandemia do novo coronavírus virou o planeta de cabeça para baixo e colocou a população de cabelos em pé. No campo do trabalho não foi diferente. Entre o "novo normal" e o tão esperado futuro pós-Covid-19 sobram interrogações. Mas não faltam também reflexões e teorias sobre os desdobramentos da atual sobreposição de crises, sanitária, política, econômica e social. Por aqui, há quem preveja para logo adiante um cenário distópico, algo semelhante aos filmes "Bacurau", "Coringa" e "Parasita".

A comparação quem faz é o professor de sociologia do trabalho da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Ricardo Antunes. O sociólogo destaca um elemento comum nos três filmes: uma revolta que emerge das camadas mais vulneráveis da sociedade (...).

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Amanda Miranda/UOL Amanda Miranda/UOL

Cosmovisão

Como indígenas e afrodescendentes podem ajudar a construir uma filosofia brasileira

Quem são os selvagens: os que derrubam e queimam as florestas ou os que tratam as árvores e animais da mata como seus iguais? Quem são os primitivos: os que importam e acreditam na última teoria da moda ou os que observam seu entorno e estudam seu passado?

As crises ambientais e sociais da atualidade estão cada vez mais gerando interesse no Brasil para a produção intelectual feita a partir do olhar indígena e negro, como possibilidade de construção de um saber filosófico daqui e como contraponto à visão utilitarista, à lógica individual e à razão cartesiana da dita vida moderna (...).

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Amanda Miranda/UOL Amanda Miranda/UOL

Cidadania trans

A resistência de mulheres e homens que lutam pelo grupo mais vulnerabilizado da sociedade

"Se não fosse a Marinha, eu nem sei se estaria viva, hoje, com 40 anos. Tive uma ruptura familiar muito precoce e enxerguei nas Forças Armadas uma oportunidade de sair de um ambiente extremamente desconfortável. A Marinha me possibilitou mudar de cidade, recomeçar, e ter minha estabilidade financeira. Ao mesmo tempo, paguei um preço caro por tudo isso: abri mão de ser quem eu era por quase 10 anos".

Bruna Benevides mudou-se para o Rio de Janeiro aos 18, deixando para trás a infância e a adolescência, o ambiente desconfortável e repressor em que vivia dentro da própria casa dos pais (...).

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Causadores: Luciana Bispo

  • Ela é líder da ONG Maria & Sininha, e não faz caridade: promove direitos

    "Mudei minha opção de curso na universidade. Fui de Direito para Serviço Social. A ideia, no início, era só a de ajudar minha mãe, criadora de um abrigo para crianças abandonadas no extremo sul de São Paulo. Ao longo dos anos fui entendendo: minha mãe não fazia caridade. Ela promovia direitos. E foi isso que me encantou para continuar a ajudar crianças e adolescentes (...)"

    Imagem: Julio Kohl/UOL
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Ecovilas

Comunidades servem de exemplo para sociedade mais igualitária e ecológica e ajudam na reconstrução do viver

Durante milênios e nos cinco continentes, a humanidade viveu em aldeias, plantando seu alimento e cuidando das águas e da natureza do entorno. Tudo mudou nos últimos 200 anos, principalmente após as sucessivas revoluções industriais. Agora, com emergências climáticas, ecológicas e sociais em andamento, uma onda contrária acontece, e as chamadas ecovilas surgem como alternativa, podendo aliar os conhecimentos rurais e naturais com as tecnologias das cidades.

Desde 1998, a Organização das Nações Unidas reconhece as ecovilas entre as melhores práticas para o desenvolvimento sustentável. E recentemente essa ideia tem sido aplicada para a reconstrução de áreas atingidas por desastres naturais e econômicos também (...).

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Amanda Miranda/UOL Amanda Miranda/UOL

As outras economias

Novas teorias questionam atual sistema e planejam um mundo em que cuidado e confiança movam as pessoas

A economista Gabriela Mendes Chaves provoca: "O capital é colaborativo...entre si. As grandes empresas são solidárias, montam oligopólios e concentram a renda." Por isso, ela defende que as periferias criem sistemas econômicos, com o nome que seja, para fortalecer quem foi escolhido para o papel de vulnerável.

"O dinheiro tem que circular dentro da comunidade, de forma horizontal e transparente. Tem que haver um esforço para criar um ambiente de empreendedorismo social e negócios de impacto no território. Exemplos não faltam." (...)

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Causadores: Anna Benite

  • Ela trabalha pela descolonização de currículos e por diversidade na ciência

    "'Onde estão as pessoas que vieram do mesmo lugar que eu e cadê as mulheres?'. Todas as vezes me fazia essa pergunta enquanto andava pelos corredores da universidade de química. Era um lugar tão monocromático (...)"

    Imagem: Pryscilla K./UOL
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