Estamos perto do fim de 2020. Há mais de 200 dias lidamos diariamente com dados aflitivos e números crescentes de infectados e vítimas da Covid-19. Ainda assim, este ano está provavelmente entre aqueles que mais nos despertaram esperança. Mas não esperança como um sentimento abstrato, subjetivo, individual, e sim aquela que se forma num cultivo diário, entre muitos corpos e vozes, personificada em cada ser humano que, em meio a uma calamidade global, olhou para o outro e não apenas para si, sem deixar o medo ou qualquer desafio que estivesse à frente limitar a vontade de apoiar quem estivesse sofrendo não só com o vírus, mas com a fome, a violência e as vulnerabilidades de longa data que vivemos no Brasil.
Foi nesse cenário que a sociedade civil mostrou a potência da articulação e da mobilização popular. Sinalizou que, mesmo fisicamente separados, estamos juntos. Que quem enfrentou os efeitos do coronavírus no próprio corpo, na própria pele, também conseguiu se levantar para reencontrar a família, os amigos e recomeçar. Neste especial, Ecoa reúne 100 histórias inspiradoras, que mostram haver muito mais gente trabalhando pelas necessidades coletivas do que é possível enxergar em nossas bolhas.
Histórias de veteranos de lutas, como as duas décadas de ativismo nas favelas de Preto Zezé, a novatos que, inspirados pelos gestos de outros ou pela emergência do momento, resolveram partir para a ação direta pela primeira vez, como o motoboy José Arludo, que distribuiu lanches a quem precisou varar a madrugada na fila à espera do auxílio emergencial.
Histórias de chefs famosos como Rodrigo Oliveira e Telma Shiraishi, que participaram de ações solidárias a partir de seus restaurantes estrelados, a anônimos como Tássia Bento, que lidera uma cozinha comunitária para produzir e distribuir marmitas a pessoas em situação de rua.
Histórias de um garoto de 9 anos que escreveu um livro para estimular outras crianças a ler na quarentena a uma idosa de 95 anos que costurou máscaras para doar a quem precisa. Do casal rock Vivi Torrico e João Gordo, que trabalham incansavelmente para distribuir comida, roupas e oferecer escuta a pessoas em situação de rua, a drag queen Yasmin Bispo, que fez de suas lives um instrumento de sobrevivência para outras artistas que, como ela, tiveram de se afastar do público. De movimentos organizados a iniciativas improvisadas. De norte a sul. No melhor dos mundos, de um para todos e todos para um.