A mãe solo Thaiz Leão, 29, está atarefada. Muito atarefada. Ela e o filho Vicente já estão em casa direto há três meses. As aulas são virtuais e a professora da escola envia tarefas e recados pelo celular. Quando o aparelho vibra, ela para tudo e bota o garoto de seis anos para estudar. Na marra, mantém de dois a três afazeres ao mesmo tempo. Nem sempre consegue.
Assim que o menino começa os deveres, ela retorna para o computador. Ajeita os óculos e fica meio cansada, meio elétrica. Do outro lado da tela estão milhares de mães solo, como ela, à espera de uma ajuda.
Desde o início da pandemia, Thaiz, diretora da Casa Mãe e criadora da página "A Mãe Solo", coordena a campanha #SeguraACurvaDasMães. O nome é a uma alusão à curva de contágio do novo coronavírus, mas a ideia é impedir que os dados negativos contra as mães continuem a crescer.
Não à toa, elas foram atingidas em cheio pela Covid-19. O trabalho de maneira remota com as crianças em casa tem sido difícil. Quem não pôde se isolar têm medo de adoecer ou transmitir o vírus para os filhos. Milhares, porém, não tiveram a sorte de manter o emprego quando a crise bateu. Chefes de família, então com contas em dia, buscam cestas básicas e auxílio emergencial para conseguir comer. "Os empregos das mulheres foram dizimados no primeiro dia de pandemia", explica a ativista.
Sem política pública, mães solos estão construindo redes para questionar e redefinir o papel materno em uma sociedade em colapso econômico e sanitário.
Pela internet, Thaiz faz sua parte. Ela recebe doações e envia R$ 150, ajuda psicológica e social para 1.734 mães vulneráveis em todos os estados brasileiros. Cerca de 7 mil pessoas são auxiliadas, contando idosos e filhos sob os cuidados das cadastradas. A ideia é somar o valor com o auxílio emergencial oferecido pelo governo federal. Há mães, porém, que sequer tem CPF e acesso a uma conta corrente. Nesses casos, é preciso encontrar familiares que possam receber o valor. Também foram criados grupos regionais de WhatsApp para que elas troquem favores entre si.
"As escolas eram o único apoio que tínhamos do estado, pois não há parquinhos, nem serviços públicos para as mães", diz Thaiz por chamada de vídeo, enquanto Vicente, filho que teve ainda durante a universidade, brinca na sala. No caso dela, pôde contar com o pai para ficar com o filho por 4 meses. Nem sempre é assim com outras mães. "Há mães solo que estão no limite do desgaste financeiro e emocional. Com depressão, ansiedade e suicídio batendo na porta", diz.