Em 2008, ao caminhar pela floresta do Parque Nacional da Tijuca, na cidade do Rio de Janeiro (RJ), a servidora aposentada Ivandy Castro notou frutos de cutieira apodrecendo no chão. Como o nome da árvore indica, esses frutos são consumidos por cutias, mas os animais estavam extintos na região e, por isso, não exerciam mais o papel de dispersar as sementes dos frutos. Surgiu então a ideia de reintroduzi-las no parque para que retomassem sua função no ecossistema.
"As cutias costumam enterrar as sementes no solo para consumo posterior, mas muitas vezes as esquecem, dando origem a novas árvores e contribuindo para a regeneração da floresta", explica Marcelo Rheingantz, biólogo da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Marcelo é diretor-executivo do Refauna, iniciativa que reintroduz múltiplas espécies da fauna nativa em áreas remanescentes da Mata Atlântica com objetivo de restaurar funções ecológicas perdidas. Os pesquisadores do Refauna buscam combater o que chamam de "síndrome da floresta vazia": quando a floresta existe, mas a fauna não. Desde que foi criado em 2010, o projeto trouxe de volta três bichos que haviam desaparecido da paisagem da floresta da Tijuca: as cutias-vermelhas, os macacos bugios e os jabutis-tinga. Os cientistas agora estão prestes a realizar o reforço populacional do trinca-ferro, pássaro que é alvo cobiçado de traficantes de animais, e aguardam as autorizações para reintroduzir as araras-canindé.