Na Em Movimento vocês criaram uma aliança de organizações que pensam em projetos voltados para a juventude. Para você, qual a importância de trabalhar com o fortalecimento e apoio aos jovens no Brasil?
Quando a gente pensa em sustentabilidade, não tem como não pensar na juventude. Porque se você está pensando em promover um debate que seja duradouro, é preciso ter um diálogo intergeracional. Se a gente não fizer alguma coisa, se não conseguirmos aproveitar essa janela de oportunidade que é essa grande população jovem e a potência que isso tem, a gente tende a ficar para trás. Vamos envelhecer rápido e corremos o risco de não inserir boa parcela da população nos nossos planos, deixando os jovens cada vez mais improdutivos, o que vai ser um problema para a sociedade como um todo.
Você faz parte de um grupo de herdeiros das maiores fortunas do Brasil. Como você encara isso? Sente que de alguma forma sua responsabilidade com a sociedade aumenta por causa disso?
Com certeza! Posso levar isso de uma maneira mais leve e criativa ou para um lado penoso e paralisante. Confesso que oscilo entre uma coisa e outra. Mas sei que na hora que puder vou conseguir facilitar o acesso à oportunidade para algumas coisas e pessoas. Sinto que tenho responsabilidade maior por ter mais dinheiro. Seria um desperdício não aproveitar a minha condição privilegiada para tentar melhorar a situação de outras pessoas. Quando vou para as periferias, não acho que vou virar mano, vou para lá sabendo que eu sou boy, mas um boy que está querendo trocar ideia, que sabe que a gente é diferente, mas acredita que a gente tem muita coisa em comum também. Por isso é necessário ter um movimento de reparação, tem que ter mais acesso para a maioria, tem que ter um reequilíbrio da sociedade.
E dá para acreditar que o futuro pode ser melhor?
Tem que dar! Tem um tanto de ingenuidade que eu venho perdendo e que às vezes me deixa um pouco mais amargo, mas acho que dá. No meu conceito de saúde e equilíbrio não adianta estar bem aqui no meu bairro se o entorno vai estar todo ferrado. As minhas escolhas de consumo aqui vão afetar a vida das pessoas nas periferias. Estamos todos na mesma casa, não tem o lado de fora no mundo. Uma hora ou outra as coisas vão acontecendo, vão ganhando corpo. Apesar de todo caos social que a gente vive, vejo várias luzes de força e união nesse país.