Aos 72 anos, a psicóloga Sandrali de Campos Bueno não pensa em diminuir o ritmo, mesmo após quadro décadas recorrendo aos princípios dos cultos de matriz africana para lutar pela igualdade racial, da política à religião, passando pela cultura.
Mãe de santo da Comunidade de Terreiro Sociedade Afrobrasileira "Ìlé Àiyé Orishá Yemanjá", em Pelotas (RS), Iyá Sandrali defende o estado laico como princípio da democracia. E vê que apenas a igualdade de condições pode fazer do Brasil uma nação.
Religião não é só se religar ao sagrado, mas à humanidade das pessoas
Enquanto isso, ela equilibra o trabalho junto a adolescentes em conflito com a lei e as atuações nos movimentos negro e de preservação de religiões afrobrasileiras. Soma-se a isso a vida política, do PDT ao PT, partido ao qual é filiada desde o início dos anos 1990 e dentro do qual luta pela maior inserção de pessoas negras.
Sem tempo a perder, Sandrali não acha que seja utopia o fim do racismo no Brasil. "Se eu pensasse assim, minha luta não valeria a pena", justifica. Mas enfatiza que isso é percorrer parte do caminho. O restante deve ser trilhado por outras pessoas.
Não fomos nós [negros] que criamos o racismo. Eles [brancos] precisam lidar com isso. E quem se diz antirracista precisa o ser radicalmente, sem meio-termo. Eles precisam ser nossos escudos