Os guardiões

Comunidades amazônicas lutam pela sobrevivência de sua cultura e pelo futuro do planeta

Fernanda Schimidt De Ecoa, em São Paulo Bruno Kelly/Amazonia Real

A Amazônia é um crucial regulador da temperatura do planeta e responsável por assegurar o fluxo de chuvas indispensável para a produção agrícola brasileira. Com o investimento estatal para o combate do desmatamento em constante risco, as comunidades indígenas, ribeirinhas e quilombolas que povoam a Amazônia Legal ganham protagonismo na preservação da floresta.

As terras indígenas (TIs) e as áreas naturais protegidas (ANPs) cobrem, juntas, mais da metade (52%) da Amazônia e armazenam 58% do carbono na região, segundo artigo científico publicado pelo IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) no início deste ano.

Um estudo divulgado em agosto de 2020 pela agência Reuters mostrou que territórios indígenas demarcados tiveram redução de 66% em desmatamento anual quando comparados com terras não demarcadas. A análise foi feita a partir de dados de satélite coletados entre 1982 e 2016.

"Uma vez que os direitos totais de propriedade são concedidos aos territórios indígenas... as tribos indígenas são realmente eficientes na contenção do desmatamento", disse à Reuters a coautora do estudo e pesquisadora Kathryn Baragwanath.

Apesar do trabalho de Baragwanath mostrar a importância da demarcação de terras para a conservação das florestas, dados coletados nos primeiros quatro meses de 2020 mostram uma realidade alarmante: aumento de 64% nos índices de desmatamento em terras indígenas da Amazônia em comparação com o mesmo período do ano anterior. De acordo com dados disponibilizados pelo Instituto Socioambiental (ISA), em alguns territórios o índice chegou a ser 827% maior entre março e julho.

A presença de garimpeiros ilegais e o risco adicional da Covid-19, que avança nas comunidades marcadas pelo acesso escasso ao sistema de saúde, reforçam a urgência da luta indígena. Em colaboração com Ecoa, fotógrafos e ONGs ajudam a retratar alguns dos rostos que têm liderado esse movimento de preservação cultural e, principalmente, do futuro do planeta.

Esta reportagem faz parte da série especial que celebra o Dia da Amazônia, comemorado em 5 de setembro. Ao longo da semana, Ecoa mostrará alternativas para a exploração sustentável de um dos principais ativos nacionais e reunirá especialistas para discutir como garantir não apenas sua conservação, mas caminhos para a regeneração do desmatamento constante que a região vem enfrentando.

Bruno Kelly/Amazonia Real Bruno Kelly/Amazonia Real

Acima, retrato feito por Bruno Kelly do cacique Adílio (Arabonã, na língua Kanamari) da aldeia Bananeira, onde vivem cerca de 200 Kanamari e fica localizada no rio Itacoai na Terra Indigena Vale do Javari, no Amazonas.

Abaixo, uma mulher Munduruku limpa peixes que acabou de pescar no registro de Fábio Nascimento. Ela está preparando comida para a primeira manhã de uma reunião da assembleia geral do povo Munduruku, com 700 pessoas de 102 aldeias que se reuniram por cinco dias. Saúde e educação indígena estavam em pauta, mas o principal tema discutido era a preservação de seu modo de vida.

Fábio Nascimento Fábio Nascimento
Daniel Klajmic/Prodigo Daniel Klajmic/Prodigo

Detalhe de adorno usado pelo mestre Luiz Laureano da Silva durante filmagens da campanha do ISA #PovosDaFloresta, fotografada por Daniel Klajmic em Presidente Figueiredo (AM), em fevereiro de 2019.

Abaixo, fotos de Bruno Kelly mostram grupo de mulheres e de homens indígenas durante ritual de boas-vindas para parlamentares e assessores na aldeia Mynawa, da Terra Indígena Waimiri Atroari, na divisa do Amazonas com Roraima. O território recebeu visita da Comissão de Meio Ambiente e da Frente Parlamentar Mista em defesa dos direitos dos Povos Indígenas.

Bruno Kelly/Amazônia Real Bruno Kelly/Amazônia Real

Os povos indígenas estão decididos a se defender, não vão desistir. Eles são a esperança.

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Leila Salazar-López, diretora da ONG Amazon Watch

Bruno Kelly/Amazônia Real Bruno Kelly/Amazônia Real
Marcio Isensee e Sá Marcio Isensee e Sá

Chico Catitu, ribeirinho de Montanha Mangabal, comunidade que fica nas margens do Rio Tapajós, foi o responsável por forjar a primeira aliança entre ribeirinhos e munduruku para proteger a floresta. Sua luta pelo direito à terra colocou sua vida em risco. Nesta foto de 2014 tirada por Marcio Isensee e Sá, Chico Catitu participa da autodemarcação da Terra Indígena Sawré Muybu junto do povo Munduruku.

Abaixo, outro clique de Marcio Isensee e Sá retrata Maria Leusa Kaba Munduruku, importante voz feminina na luta indígena da região do Tapajós, no Pará. Aqui, Leusa posa com seus dois filhos durante processo de autodemarcação da Terra Indígena Sawré Muybu.

Na sequência, Davi Kopenawa, liderança política e xamã Yanomami, durante filmagens da campanha do ISA #PovosDaFloresta, registrada por Daniel Klajmic em Presidente Figueiredo (AM), em fevereiro de 2019.

Marcio Isensee e Sá Marcio Isensee e Sá

Falar de espiritualidade é querer o bem do outro, é curar o outro. É através dessa conexão com a nossa espiritualidade que nós, povos indígenas, estamos defendendo o mundo hoje, para que vocês bebam água boa, para que você e seus filhos vivam bem

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Shirley Krenak, escritora indígena

Daniel Klajmic/Prodigo Daniel Klajmic/Prodigo
Fabio Nascimento Fabio Nascimento

A aldeia, por ter um tempo circular, entende a importância de se pensar e compreender o passado, para poder vivenciar o hoje e pensar o futuro. Por isso, a gente experimenta o bem viver que é uma relação intrínseca entre o homem e a natureza

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Márcia Wayna Kambeba, escritora, geógrafa e atriz

Fabio Nascimento Fabio Nascimento

Acima, líderes Munduruku e cerca de 1.400 indígenas de várias comunidades fazem acampamento em Brasília para pedir demarcação das terras na foto de Fábio Nascimento feita em 2015.

Na mesma ocasião, ele registrou a presença de Raoni Metuktire no Congresso Nacional, pedindo para que a Casa ficasse aberta aos povos originários. Com a ajuda de um intérprete, o líder Kayapó disse sobre a PEC 215: "hoje os deputados só querem fazer essas leis que afetam os indígenas. Não aceito essa lei."

Abaixo, a nova geração de lideranças indígenas. O registro de Bruno Kelly mostra crianças na aldeia Mynawa, na Terra Indígena Waimiri Atroari.

Na sequência, lideranças indígenas, quilombolas e ribeirinhas, parceiras do ISA, participam de filmagens da campanha #PovosDaFloresta com Daniel Klajmic em Presidente Figueiredo (AM), fevereiro de 2019.

Por fim, o retrato da resistência em foto de uma placa da Funai com marcas de balas, na foto de Fábio Nascimento feita no limite da terra indígena Uru-Eu-Wau-Wau.

Bruno Kelly/Amazônia Real Bruno Kelly/Amazônia Real
Daniel Klajmic/Prodigo Daniel Klajmic/Prodigo

Nas conferências de clima, sempre há grupos indígenas do mundo todo com demandas muito simples: proteger e pedir justiça climática às pessoas mais afetadas.

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Leila Salazar-López, diretora da ONG Amazon Watch

Fabio Nascimento Fabio Nascimento

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