Às 8h de um domingo, Seu Quintino, 78, abre as portas de uma casa no Jardim Damasceno, um dos morros da Brasilândia, periferia da zona norte de São Paulo. A porta do local, inclusive, traz os dizeres "salve a natureza" e o alerta: "Não enterre o lixo embaixo da terra. É crime ambiental". Ali funciona a sede improvisada da Associação Movimento Ousadia Popular, que fundou nos anos 2000 para lutar pela preservação da região.
Aquele dia (como todos os outros na vida dele) a programação seria extensa. Ainda faria uma das caminhadas ambientais que ficou famosa por ali, uma roda de conversa sobre demandas locais, almoço com lideranças do bairro e visita aos parques do entorno para verificar a situação de cada um. Seu Quintino não tinha previsão de quando poderia parar para descansar.
Dentro da sede do movimento, uma faixa na parede diz que a comunidade do Damasceno está em defesa do SUS (Sistema Único de Saúde) e lutando pela criação da UBS (Unidade Básica de Saúde) do bairro. Divide espaço com símbolos do Corinthians, quadros pintados pela neta dele, os presentes que ganhou durante a vida, uma imagem enquadrada do fotógrafo Sebastião Salgado, uma bandeira do Brasil e sementes de plantas que ele cultiva.
Respeitado na região, ele é visto pelos vizinhos como pioneiro, já que foi um dos primeiros a chegar ali falando de um tal meio ambiente e em defender a natureza. Se tornou referência ambiental na favela.
Sentado em uma cadeira e vestido com uma roupa toda verde - uma de suas marcas -, seu Quintino logo puxa a conversa dizendo que seu interesse pelo meio ambiente começou depois que teve uma "visão divina" quando ainda era muito menino.