"Foram quase 17 anos no mundo corporativo. Sofri muita discriminação, hoje consigo elaborar, falar sobre isso, mas na época não tinha essa clareza. Sabia que tinha mais obstáculos para conseguir qualquer passo dentro dessa carreira. Sempre ouvia em todos os processos seletivos que não vinha de escola e de faculdade de primeira linha, que não falava inglês fluente. Eram obstáculos que sempre batiam toda vez que tentava uma promoção.
O colégio não conseguia resolver, mas fui fazer pós-graduação em marketing na ESPM e consegui uma licença não remunerada para estudar inglês fora do país. Quando fui tentar outra promoção, o diretor me disse que gostava do meu currículo, do meu desempenho dentro da empresa, mas era uma pena que fosse mulher. Na época minha reação foi até meio inocente, fico pensando como agiria hoje. Virei e falei: 'mas o que você quer que um homem faça que uma mulher não pode fazer?'. 'Quero alguém agressivo nas decisões, que bata na mesa', ele respondeu. Eu disse que era possível conseguir resultados, tratando com respeito. Mas ele não quis me dar a vaga. Fiquei bem chateada na época.
Ao mesmo tempo, quando minha filha tinha cinco anos me via trabalhando demais e continuava sofrendo com os processos discriminatórios. Tinha o sonho de virar diretora, mas depois chegou um momento em que queria fazer coisas que fizessem mais sentido. Tinha um salário bom, carro, plano de saúde, mas pedi demissão porque não queria mais viver nesse ambiente. Minha única certeza era de que queria viver outras possibilidades."