"Eu nasci em um barraco de terra batida em uma favela de Guarulhos. Não estudei sobre desigualdade, eu vivi desigualdade. Isso vai forjando seu caráter, sua experiência de mundo. É impossível passar pelo que passei e ficar imune à transformação humana. Com a experiência que tive, com os amigos que perdi, eu não poderia seguir outro caminho a não ser fazer o enfrentamento à pobreza.
Quando você dorme ao lado de ratos pela falta de saneamento básico, bebe água com cloro, e visita o pai na cadeia, você quer se livrar disso. Quando comecei, eu não tinha outra referência a não ser a garra e força da minha mãe.
Muita gente me pergunta, até mesmo nas entrevistas, porque eu nunca desisti? E eu digo que nunca houve essa opção. Não havia outra saída a não ser fazer o enfrentamento à pobreza. Meu plano B era fazer o plano A dar certo. A minha confiança vem de ver como a favela é potente. A realidade coloca as pessoas em uma jaula, para elas não acreditarem nisso. Eu, a Gerando Falcões, é uma amostra diminuta da potência que existe na favela.
Tudo o que eu aprendi foi lá, vendendo alface na feira, sobrevivendo à enchente, visitando meu pai na cadeia, resolvendo conflitos. Lá existe uma criatividade e resiliência imensa. A gente precisa defender que todos os brasileiros tenham oportunidades iguais."