Emprego justo, em equilíbrio

Pandemia nos jogou em crise, mas traz oportunidades para repensarmos relações de trabalho e um futuro melhor

De Ecoa, em São Paulo

Para milhares de brasileiros a pandemia se transformou no momento em que nossas casas foram invadidas pelo trabalho, reuniões com cachorro latindo, preenchimento de planilhas com crianças no colo, expedientes inteiros com obra no vizinho e contas de luz e internet mais caras. Para outros tantos milhões, significou desemprego, jornadas intensas de trabalho precarizado e boletos atrasados. O momento pede ação rápida, criatividade, inovação e resiliência para tentar reverter os impactos da crise e ajudar a fomentar um futuro em que vida pessoal e vida profissional estejam em equilíbrio.

Apesar da pandemia, nunca se falou tanto sobre a importância da diversidade para os resultados de um negócio ou da sustentabilidade como estratégia de sucesso financeiro e combate à crise climática. Precisamos conhecer alternativas para a exploração predatória, cobrar mudanças e colocá-las em prática, assim como questionar nosso papel como consumidores nesta lógica vigente.

Durante três semanas, Ecoa se debruça justamente sobre pessoas, iniciativas e empresas que estão trilhando possibilidades deste amanhã viável. Há muita gente lutando por relações de trabalho mais justas, fortalecendo comunidades, criando novas oportunidades de negócios e apoiando quem tenta empreender em meio à crise.

São reportagens especiais, entrevistas, guias práticos e muito mais conteúdo preparado para disseminar histórias e soluções e ajudar a incentivar um mercado mais justo, plural, produtivo e sustentável para todas as pessoas.

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De casa e do escritório

Com aprendizados da pandemia, empresas se organizam para pensar o modo de trabalho do futuro

"Trabalho aqui como se estivesse em qualquer lugar do país", diz Samuel Engmann, que há meses, como tantos outros desde o início da pandemia, está em home office. A necessidade de isolamento social e as restrições de circulação aceleraram a transição de boa parte do mundo corporativo para o trabalho remoto. Foi a solução possível para manter uma infinidade de negócios em atividade.

Foi a flexibilidade do trabalho virtual que permitiu o gerente de produtos de 39 anos manter o emprego quando viu, em poucos meses, sua vida entrar num modo "montanha-russa" (...)

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Tem papel que é do Estado

Empresas são essenciais para pressionar governo por políticas públicas e exigir melhorias para a sociedade

As empresas já perceberam que ambientes de trabalho mais diversos são terreno fértil para a inovação. Além disso, os consumidores ficaram mais exigentes e o próprio mercado está de olho em companhias que promovam a inclusão de grupos tradicionalmente excluídos. O problema é que muitas das medidas adotadas pelo setor privado esbarram na falta de políticas públicas.

"A pauta da diversidade não é de responsabilidade exclusiva das empresas, mas é compartilhada com o Estado e a sociedade. As organizações sempre vão ter limitações para atuar nessa agenda", diz Ricardo Sales, sócio da consultoria Mais Diversidade.

Só que especialistas ouvidos por Ecoa dizem que as empresas são importantes na hora de apoiar e pressionar para que o Estado cumpra o seu papel (...)

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Causadores

  • Ana Fontes

    "Foram quase 17 anos no mundo corporativo. Sofri muita discriminação, hoje consigo elaborar, falar sobre isso, mas na época não tinha essa clareza. Sabia que tinha mais obstáculos para conseguir qualquer passo dentro dessa carreira. Sempre ouvia em todos os processos seletivos que não vinha de escola e de faculdade de primeira linha, que não falava inglês fluente. Eram obstáculos que sempre batiam toda vez que tentava uma promoção (...)"

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  • Maite Schneider

    "Meu trabalho hoje em dia com as empresas é ensinar gente a não ter medo de gente. E, quando consigo fazer as pessoas perderem esse medo [de contratarem pessoas trans], elas dizem: "Maite, eu não sei tudo", e eu falo "Tudo bem, nem eu", e vamos lá assim mesmo. O que a gente não pode é desrespeitar, agredir, invadir e castrar as pessoas. Fora isso, às vezes, você vai errar (...)"

    Imagem: Pryscilla K./UOL
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  • Edu Lyra

    "Eu nasci em um barraco de terra batida em uma favela de Guarulhos. Não estudei sobre desigualdade, eu vivi desigualdade. Isso vai forjando seu caráter, sua experiência de mundo. É impossível passar pelo que passei e ficar imune à transformação humana. Com a experiência que tive, com os amigos que perdi, eu não poderia seguir outro caminho a não ser fazer o enfrentamento à pobreza (...)"

    Imagem: Flavio Sampaio/Divulgação
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Aprendizagem como modelo

Como o programa Jovem Aprendiz pode ensinar o Brasil a oferecer perspectivas de uma vida melhor no futuro

Ônibus, casa, escola, trabalho, aulas de inglês, planilhas. A rotina de Sarah Dias começou aos 14 anos e continua puxada aos 20. Ela quer ser o exemplo para o irmão mais novo e vizinhos de Pirituba, bairro onde mora em São Paulo. Para isso, determinou que dividiria trabalho e estudos. A melhor opção foi uma vaga como Jovem Aprendiz.

O Jovem Aprendiz é uma política pública criada em 2000 e é a primeira experiência de trabalho para milhares de jovens. O programa aumenta em mais de 40% a continuação dos estudos e permite fazer planos, se formar e ter uma carreira.

Segundo especialistas ouvidos por Ecoa, é possível melhorá-lo com atenção especial a jovens negros, ampliá-lo para acima dos 24 anos e prorrogar contratos até o aprendiz ser efetivado. Há muitas possibilidades e necessidades (...)

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Um puxa o outro

Como rede de empreendedorismo e consumidores negra é formada e ajuda na inclusão no mercado de trabalho

Tem pouco mais de um ano que Juliana Trindade, 31, abriu um negócio próprio. O Nega Ju é o primeiro salão afro do Jardim Campo Belo, periferia de Campinas (SP). Começou a funcionar recebendo a clientela em um espaço tão pequeno que três pessoas já causavam lotação. E como lotou. Tanto que ela precisou mudar o estabelecimento três vezes de lugar e contratar cerca de 20 pessoas para conseguir absorver o movimento.

Todas as funcionárias que já trabalharam ou ainda trabalham por lá são mulheres negras. A maioria chegou contando sobre o sonho que tinham de fazer o mesmo que ela. Diziam que, depois de ver o exemplo de Juliana, ficaram inspiradas para fazer igual. Que gostavam de mexer com cabelo e também queriam poder ter um salão para chamar de seu (...)

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Entrevista

  • Senhor do tempo

    Escritor Daniel Munduruku compartilha visões indígenas de trabalho e tempo: "O que importa é o bem viver"

    Imagem: Arquivo pessoal
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  • Propósito além do eu

    Filósofo Roman Krznaric defende que trabalho ideal é cruzamento de talento pessoal e necessidades do mundo

    Imagem: Kate Raworth
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A hora da diversidade

Com preocupação crescente por quadro de funcionários plural, empresas têm de garantir inclusão também no topo

Não é novidade alguma dizer que muita gente nesse país trabalha porque precisa. No caso de um menino de Salvador, a necessidade veio cedo demais: aos 13 anos. Seu pai havia morrido, deixando a mãe sozinha para cuidar dos quatro filhos. Para ajudar em casa, Silvio Silva, hoje com 45 anos, fez de tudo um pouco: foi garçom, motorista e vendedor de abadá, para citar alguns exemplos.

A carteira assinada veio seis anos depois, quando se tornou repositor (...)

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Trabalhar para (bem) viver

Povo baniwa tem autonomia sobre seu tempo e compartilha o que é produzido. Como aprender com eles?

"Eu me orgulho de dizer que sou doutora mas também sei fazer beiju, sei fazer farinha, ralo mandioca, carrego mandioca, capino roça, planto com minha mãe, faço tudo isso", diz Francineia Bitencourt Fontes, conhecida como Fran Baniwa, citando algumas das principais tarefas do cotidiano dos baniwas.

Ela foi a primeira mulher do povo a ter um mestrado e, em breve, se tornará também a primeira doutora, com tese sobre o papel das mulheres na sociedade baniwa, que será defendida no Museu Nacional, vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Na comunidade, desde cedo se aprende a trabalhar na roça, acompanhando os pais na lida diária (...)

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Juntos e mais fortes

Alternativa para a crise, cooperativismo traz melhores ganhos e pode inspirar relações de trabalho mais justas

Foi depois de mais de cinco anos de discussões que dezenas de extrativistas e agricultores dos povos da floresta da Calha Norte do Pará decidiram organizar conjuntamente os frutos do seu trabalho e conhecimento tradicional para criar uma entidade que os representasse.

Nasceu assim, em 2019, a Cooperativa Mista dos Povos e Comunidades Tradicionais da Calha Norte (Coopaflora), que tem como carro-chefe a extração de castanhas, copaíba (planta medicinal), cumaru (semente usada em cosméticos) e da pimenta indígena assisi, e também produz em menor escala itens como farinha, banana, cará e melancia (...)

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Trabalho do futuro

Novas profissões, habilidades interpessoais e tecnologia ajudam a uma transição de carreira mais tranquila

Em paralelo a taxas crescentes de desemprego, as crescentes inovações tecnológicas e a chegada da chamada Indústria 4.0 são pontos cruciais quando o assunto é transição de carreira. Apesar de contribuir para que algumas áreas de atuação percam vagas para a automação, elas criam novas frentes de trabalho, o que atrai jovens talentos e profissionais veteranos que desejam mudar de emprego e encontrar oportunidades em áreas mais aquecidas. Conhecer quais são essas demandas e as habilidades buscadas para estas novas profissões pode ser uma virada de chave importante para quem está em busca de uma colocação no mercado de trabalho.

Segundo o relatório "The Future of Jobs Report 2020" do Fórum Econômico Mundial, estima-se que, até 2025, 85 milhões de vagas serão perdidas diante da mudança do trabalho feito por humanos para o trabalho feito por máquinas. Mas, ao mesmo tempo, 97 milhões de novos empregos surgirão, mais adaptados à nova realidade tecnológica e exigindo profissionais preparados para ela (...)

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Patrão de bolso

Milhões trabalham para aplicativos. Agora, tem gente querendo dar troco com app próprio. Como fazer dar certo?

Há dois lados do trabalho por aplicativo no Brasil. De um, gera dinheiro para uma nação com 14,7 milhões de desempregados. De outro, há taxas, regras nem sempre transparentes e brigas na Justiça. Por isso, diaristas, donos de restaurantes, motoristas e empresários estão criando suas próprias plataformas tecnológicas para trabalhar. É uma corrida por uma terceira via, que pode mudar novamente o futuro do trabalho no país.

As alternativas vão de plataformas online, novos aplicativos a atendimento por WhatsApp. O objetivo é criar as próprias regras, melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores e ganhar mais (...)

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Lar doce lar

Como sua casa e o consumo consciente podem ajudar a criar relações mais justas de trabalho

Está chegando o aniversário de sua filha e, como presente, ela pediu uma jaqueta nova. Depois de muita procura, você encontra em uma loja online a peça exata que ela queria. Antes da compra, contudo, se lembra de uma reportagem que viu no jornal sobre um resgate de trabalhadores em situação de escravidão naquela mesma loja. E agora, o que fazer?

Resolver esse dilema moral passa por entender a relação entre trabalho e consumo (...)

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