A covid-19 causou um terremoto na maneira como muitas pessoas veem e fazem seu trabalho. Como podemos construir um ambiente de trabalho mais empático após esta crise?
A covid mostra que seres humanos são animais sociais. Veja o aumento de problemas de saúde mental entre os jovens por estarem isolados. Há uma fome por conexão social e vamos ver isso se manifestar no trabalho, em que tipo de trabalho importa para as pessoas. Posso estar errado sobre isso, mas acho que vai haver um aumento de pessoas querendo fazer coisas juntas, tanto no trabalho quanto no ativismo comunitário. É um pedacinho de esperança empática que surge da covid.
E acho que a estranha percepção de tempo que acontece durante a pandemia fez muitas pessoas pararem e pensarem sobre o que estão fazendo com suas vidas, se estão realmente realizadas. Acho que veremos muitas pessoas reavaliando seu trabalho. Estou começando a sentir isso quando faço webinars, muitas pessoas que trabalham em empresas parecem abertas a repensar, mesmo que seja um momento econômico difícil. Você vê pessoas dizendo "vou simplesmente largar esse emprego", mesmo que não tenham para onde ir.
Com rotinas de trabalho mais flexíveis, o que podemos fazer para nos conectarmos?
É claro que fica mais difícil quando não podemos conversar tomando café no escritório. Não nos conectamos, não nos apaixonamos, nem nenhuma das outras coisas que acontecem entre as pessoas. Por outro lado, acho que aprendemos a ser bons no uso da tecnologia, é apenas uma questão de aprender como se conectar [com os outros].
Não estou dizendo que seja uma utopia, mas realmente acho que apenas precisamos nos esforçar, como em qualquer relacionamento. Podemos fazer isso funcionar.
Quando você fala sobre uma mentalidade de legado, como isso pode se aplicar não apenas aos indivíduos, mas também às empresas?
Acho que é mais difícil gerar esse senso de legado nos negócios. Mas muitas pessoas que criaram empreendimentos sociais ou estão envolvidas com sustentabilidade estão pensando qual será o impacto de longo prazo desse negócio.
Um dos segredos do pensamento de longo prazo é que não se trata de tempo, mas de lugar. Existe uma pensadora brilhante nos Estados Unidos chamada Janine Benyus. Ela faz a seguinte pergunta: como outras espécies sobreviveram e prosperaram por 10 mil gerações ou mais? O que eles fazem é cuidar do ninho. Cuidando do lugar [onde vivem], estariam cuidando de seus descendentes. Eles não destroem o ecossistema no qual estão inseridos, ao contrário dos seres humanos. Então, nesse sentido, pensar a longo prazo é cuidar desse lugar, porque ele vai cuidar dos meus filhos e dos filhos deles, dar-lhes ar para respirar e água para beber. Essa é a base da vida.
Então, acho que as empresas que deixam legados, que são boas nisso, são aquelas que respeitam os limites ecológicos. Precisamos aprender a amar esses limites.
Por que devemos nos preocupar com como seremos vistos pelas gerações futuras com o legado que estamos deixando para elas?
Muitas pessoas estão apenas lidando com os problemas de suas próprias vidas hoje, com um membro da família que morreu de covid-19 ou com a perda do emprego. Por que devemos nos preocupar com as gerações futuras quando há tantas questões importantes hoje, da desigualdade de riqueza à desigualdade racial?
Creio que nunca antes na história da humanidade nossas ações tiveram impactos tão destrutivos para as gerações futuras. Pense na crise climática, as emissões de carbono ficarão no ar, o nível do mar seguirá aumentando por décadas. Pense na necessidade de nos planejarmos para a próxima pandemia que pode estar no horizonte. Pense nos riscos tecnológicos, como inteligência artificial e armas biológicas.
Minha filha acabou de passar do lado de fora da janela, e ela tem 12 anos. Ela pode estar viva em 2100. Ela será uma mulher velha, mas estará viva. A pergunta é: em que mundo ela vai viver? O que eu faço vai impactar seu futuro. Então, há uma questão muito fundamental sobre como essas gerações futuras vão nos julgar pelo que fizemos ou deixamos de fazer quando tivemos a chance.
Claro que há outra questão aí, mais complexa, sobre se há um conflito entre o que precisamos fazer hoje e o que precisamos fazer para ajudar as gerações futuras. Mas, para a área ambiental, mudar [a matriz energética] para energias renováveis está ajudando as pessoas hoje, melhora o ar que respiramos, mas também ajuda as gerações que ainda virão.
Às vezes, é claro, há emergências e precisamos investir dinheiro e energia em algo como a covid-19. Mas mesmo nesse caso, os países que lidaram relativamente bem com a covid-19 são os que tinham planos [de prevenção] de pandemia prontos — Taiwan, Coreia do Sul e alguns outros. E os países que não se saíram particularmente bem — Estados Unidos, Brasil, etc. — não tinham. Portanto, acho que há algo de bom no pensamento de longo prazo para todo mundo.