Tem pouco mais de um ano que Juliana Trindade, 31, abriu um negócio próprio. O Nega Ju é o primeiro salão afro do Jardim Campo Belo, periferia de Campinas (SP). Começou a funcionar recebendo a clientela em um espaço tão pequeno que três pessoas já causavam lotação. E como lotou. Tanto que ela precisou mudar o estabelecimento três vezes de lugar e contratar cerca de 20 pessoas para conseguir absorver o movimento.
Todas as funcionárias que já trabalharam ou ainda trabalham por lá são mulheres negras. A maioria chegou contando sobre o sonho que tinham de fazer o mesmo que ela. Diziam que, depois de ver o exemplo de Juliana, ficaram inspiradas para fazer igual. Que gostavam de mexer com cabelo e também queriam poder ter um salão para chamar de seu.
Muitas tinham perdido o emprego durante a pandemia, e acabaram ficando para ajudar Juliana no salão, enquanto ela, por sua vez, as ajudava ensinando tudo que tinha aprendido nos cursos de que participou no ano anterior sobre cabelo e gestão de empresas. Três delas abriram o próprio salão — com apoio de Juliana, que chegou a fazer parceria com escolas profissionalizantes para conseguir cursos a um preço mais baixo para as vizinhas. Viraram concorrência, sim, mas ela diz que não vê isso como algo ruim.
"Pelo contrário, só ajuda a fortalecer a economia da minha comunidade. Sempre me questionei por que os negros não se ajudavam mais por aqui. Se eu posso ajudar uma pessoa igual a mim a ganhar o pão de cada dia, por que não fazer? Principalmente nós, negros, a gente tem que aprender a nos ajudar ou a gente nunca vai sair dessa mesmice que a gente passa desde a escravidão, né?"