Segundo dados coletados por Ecoa com o Ibama, o número de apreensões de animais silvestres sofreu uma queda em 2019 se comparado a anos anteriores. Foram registradas em 2017 um total de 1224; 1402 em 2018 e 1121 no ano passado. Fatores como capturas de animais em cativeiros, caça ou venda ilegal, por exemplo, somam-se para gerar a quantidade final contabilizada pelo órgão federal. Porém, obviamente, só é possível computar o que foi apreendido. Os dados de órgãos oficiais de fiscalização, então, não conseguem traduzir o volume real do tráfico de animais silvestres.
"Os números de resgates da fauna silvestre no Brasil não chega nem a meio por cento do que de fato é comercializado ilegalmente", afirma Dener Giovanini, coordenador geral da Renctas. Coletando informações de batalhões de Polícia Florestal, do Ministério Público Federal, Polícia Federal, Ibama, de ONGs brasileiras e internacionais, universidades e centros de pesquisa, a Renctas lançou em 2001 o Relatório Nacional sobre o Tráfico de Fauna Silvestre, trazendo uma estimativa do que possivelmente ocorre no escuro do tráfico. A grande dificuldade de acesso a números consolidados passa também justamente por essa quantidade de instituições responsáveis por fiscalização.
"É difícil saber o tamanho do tráfico no Brasil sem ter a compilação e análise de dados oficiais. Para isso, seria preciso que houvesse uma padronização nos registros. No Brasil, você tem os Estados, com secretarias do meio ambiente, registrando de um jeito. Tem órgãos federais, como Ibama e ICMBio registrando seguindo outra metodologia. E ainda tem as polícias ambientais fazendo de outra forma", explica Dener.
Ele também apontou outro vilão que nos últimos anos tem dificultado ainda mais o combate ao tráfico de animais: as redes sociais. O que antes acontecia pontualmente em espaços físicos como feiras livres em pequenas cidades do interior, agora tem uma vitrine universal na internet. "Mesmo agora, durante o período de quarentena, não houve diminuição dessas vendas online de bichos", diz. A Renctas vem monitorando redes de tráfico também no ambiente virtual.
Segundo Dener, o plano é lançar um novo estudo com os dados que a organização vem coletando virtualmente. Com exclusividade para esta reportagem de Ecoa, ele adianta um número assustador: em um período de cinco meses, foram 3,5 milhões de mensagens trocadas apenas em grupos de WhatsApp envolvendo vendas ilegais de animais silvestres. Todas já foram encaminhadas para o Ministério Público.
Mais de 80% dos bichos vendidos no Brasil são aves. E aqui há um consenso entre os dados de diferentes instituições. O Ibama confirma que trabalha com a mesma porcentagem. São os pássaros os mais traficados. Os motivos são diversos: desde o hábito do brasileiro de ter passarinhos presos em gaiola em casa até a beleza do canto e das plumas das aves que passam a ser exploradas em diferentes níveis.
"Existem atividades que alimentam esse mercado. Ganha-se bastante dinheiro com torneio de canto de passarinho, com rinha de aves, por exemplo", explica Juliana Machado Ferreira, doutora em biologia pela USP (Universidade de São Paulo) e diretora geral da Freeland Brasil, organização cuja missão é a conservação da biodiversidade por meio do combate ao tráfico de espécies silvestres.