Em meio à vegetação densa, as placas marrons anunciam as atrações turísticas: cachoeiras, construções históricas, aldeias indígenas. Não parece a São Paulo do trânsito, da fumaça e dos arranha-céus. Mas é São Paulo. Trata-se de um polo de ecoturismo situado em Parelheiros, no extremo sul da cidade, a cerca de 40 quilômetros do centro. Foi lá que o estudante Felipe Antunes Ferreira, 19, e suas duas colegas do curso de Serviço Social escolheram passar o feriado do dia 12 de outubro. Na data, o Brasil comemora o dia de Nossa Senhora, mas é ela que marca também a chegada às Américas dos navios de Cristóvão Colombo, há 527 anos. O italiano foi o primeiro europeu a chegar por aqui, dando início a um processo de colonização que dizimou a população indígena.
"A experiência foi fundamental para tirarmos essa visão do estereótipo que temos em relação aos indígenas", conta Felipe, que mora no bairro de São João Clímaco, também na capital, e viajou 57 quilômetros até Parelheiros. Os estudantes passaram o dia na aldeia Krukutu. Durante o passeio, visitaram escolas, um posto de saúde, casas de famílias e ainda participaram de uma cerimônia religiosa celebrada em guarani na "Casa de Reza" para fazer uma pesquisa etnográfica. "Poder ouvir a língua guarani foi algo muito marcante para mim", afirma.
A Krukutu é uma das nove aldeias localizadas na Terra Indígena Tenondé Porã, ou TI Tenondé Porã, como diz a população local. Ali, o povo guarani mbya aposta no contato pedagógico com os "juruá" (não-indígenas em guarani) para manter suas tradições dentro dos limites da maior cidade do hemisfério sul. Para isso, coloca em prática desde 2018 o Plano de Visitação da Terra Indígena Tenondé Porã - o primeiro a ser implementado fora da Amazônia Legal. A partir de então, turistas interessados em conhecer a cultura guarani mbya podem visitar aldeias, assistir a palestras e apresentações artísticas, nadar em cachoeiras, fazer trilhas, participar de brincadeiras tradicionais e até se hospedar com famílias indígenas.
Quem faz os agendamentos é o professor do Centro de Educação e Cultura Indígena (CECI) Adriano Karaí, um dos responsáveis pela visitação. Pelo celular, utilizando o sinal wi-fi da antena instalada pela Prefeitura de São Paulo, ou de algum computador do telecentro, ele responde e-mails e mensagens de turistas interessados em conhecer a cultura local. "Os povos indígenas são muito mais diversos do que o estereótipo que ilustra os livros de história", diz Karaí, que chama atenção para o fato de que, no Brasil, há cerca de 170 etnias que falam 320 línguas. "Durante as visitas, a gente explica a parte da história que não está nos livros, desde a época da invasão do Brasil [em 1500], a perseguição pelos jesuítas e bandeirantes até chegar aos dias de hoje".