Anos 2000, é noite no pico do Jaraguá, ponto mais alto de São Paulo (SP). Um estudante de biomedicina observa árvores que estranhamente respiram pelos troncos e movimentam seus caules como um tórax humano, em retração e expansão. Uma névoa envolve o corpo do observador, que partilha o mesmo ar espesso e esbranquiçado com os seres vegetais.
Longe de descobrir uma nova espécie ou fenda para um mundo invertido, a cena se passa na mente de Eduardo Schenberg, hoje com 43 anos, neurocientista e presidente do Instituto Phaneros. A lembrança faz parte de sua primeira experiência com ayahuasca.
"Foi uma coisa de comunhão com a natureza e com a vida. De sair e sentir a neblina da madrugada. Um deslumbramento de humildade, que vários tratariam apenas como algo religioso", diz Schenberg.
Sobrinho-neto de Mário Schenberg, considerado o maior físico teórico brasileiro, com carreira de destaque e homenageado por Gilberto Gil na canção "Oração pela Libertação da África do Sul", Eduardo diz que o que faz seguir no caminho do estudo de psicodélicos está mais no campo do mistério do que da matemática.
Até tomar, a gente não sabe que tem essa opção no menu da vida. Algumas comparações são os sonhos. É todo um universo e muito diferente de nossa vigília chamada realidade.
Mirando a ciência por trás das substâncias que produziam o efeito em sua mente, esse foi o cartão de embarque para uma longa carreira de estudos sobre como psicodélicos, nos quais se incluem a ayahuasca, podem ser usados em tratamentos clínicos de dependência química, depressão, ansiedade e outros problemas da mente.