Foram socos, pontapés, xingamentos (um sonoro "Vai, traveco!") e, então, uma escuridão. Daniella de Castro (foto), 34, acordou só no dia seguinte ao ataque que sofreu de um desconhecido enquanto andava pela rua em Manaus (AM), sua cidade natal. Mesmo sem olhar no espelho, percebeu que seu rosto já não era o mesmo. "Eu estava desfigurada e sentia muita dor. Os golpes arrancaram meus dentes e quebraram meu maxilar", conta.
O crime ocorreu em 2015. As feridas cicatrizaram em algumas semanas, mas a violência deixou sequelas mais duradouras em seu rosto e em sua autoestima. Por causa da aparência, Daniella não conseguia arrumar emprego. Chegou a viver na rua, sentia vergonha de falar, de sorrir. "Eu colocava a mão na boca", diz.
Meses depois, em junho daquele ano, mudou-se para São Paulo em uma tentativa de sair do ciclo de vulnerabilidade. Queria estudar, encontrar trabalho e formar um novo círculo social. Foi na capital paulista que conheceu o projeto Apolônias do Bem, uma ação da ONG Turma do Bem. O programa seleciona mulheres vítimas de violência que tiveram a dentição afetada para receberem atendimento odontológico integral e gratuito.
Voltei a sorrir, me senti estimulada a continuar estudando e consegui um emprego melhor."
Mais de quatro anos depois do ataque, o tratamento de Daniella ainda não chegou completamente ao fim. Ainda assim, os efeitos já são transformadores: hoje ela mora sozinha em uma casa de dois cômodos em Pirituba, na zona norte, e também conseguiu emprego. Desde setembro de 2018 trabalha em Unidade Básica de Saúde como auxiliar administrativa.