Wanderson Flor do Nascimento sempre quis ser professor. Diz isso com fala pausada e olhar sereno, repousando em uma cadeira de couro em um dos cômodos de sua casa. Rodeado de estantes e livros, conta que decidiu isso ainda criança, no terreiro de Osasco (SP) onde atuava sua avó materna. "É uma forma de retribuir à sociedade aquilo que aprendemos ao longo da vida", sintetiza.
A decisão foi seguida à risca. O hoje professor da UnB (Universidade de Brasília) dedicou a vida aos estudos. Mestre em filosofia e doutor em bioética, é dele a primeira tese da área no Brasil.
"Corpos negros morrendo aos montes na pandemia é uma discussão que passa pela bioética. Por que negros morrem mais? De que maneira? Toda e qualquer pesquisa que envolva seres humanos precisa ser aprovada por um comitê. Uso de vacinas, remédios, tudo. A bioética serve para que respeito e ética sejam os balizadores dos avanços nas áreas da saúde e da ciência", explica.
Nas aulas sobre a cultura negra, cidadania e direitos humanos, Wanderson está humanizando corpos negros por meio do conhecimento, que serve para mudar o futuro, mas também reinterpretar o passado.
Um pouco da nossa tarefa enquanto educador é questionar o que está posto e recuperar a história e a produção de pessoas apagadas sistematicamente pelo colonizador, de intelectuais como Luiz Gama, Lima Barreto e Machado de Assis a Carolina Maria de Jesus. A produção brasileira sempre foi atravessada pela potência negra, e a população precisa saber disso.